14/04/2024, 21:17
Últimas apresentações de Fim de Partida no CCBB Brasília
Fim de Partida, em cartaz no Teatro do CCBB até 21 de abril, busca provocar uma simbiose entre a ficção beckettiana e a linguagem da palhaçaria, com duas narrativas que percorrem caminhos paralelos, mas que se identificam em determinados momentos, praticando um jogo de ironia e escárnio, rindo do trágico destino traçado para a humanidade.
Nesse reencontro de Eid Ribeiro, um dos mais relevantes diretores do teatro brasileiro, o conhecido texto de Beckett e já levado aos palcos por ele nos anos 1980, inova tendo, desta vez, dois palhaços como protagonistas: Francisco Dornellas e seu filho Victor. Completam o elenco, em participações especiais, João Santos e Marina Viana. O espetáculo, escrito por Beckett entre 1954 e 1956 num contexto após duas guerras mundiais, desloca o olhar sobre este plano de destruição social numa obra sobre as relações tóxicas, servis e parentais. Ambientado em um bunker, as duas personagens principais, Hamm e Clov, agem e dialogam num jogo de repetições.
A nova montagem de Ribeiro traz um Beckett com tons de comédia, sem deixar de ser profundamente humano. Em cena, Francisco Dornellas (78) vive Hamm e contorna as dificuldades motoras e cognitivas ocasionadas por dois AVCs recentes. Para superar os desafios, Chico conta com recursos tecnológicos e o auxílio do filho, Victor Dhornelas, que divide os palcos com seu pai desde a infância.
O resultado pode ser visto como um espetáculo que navega rumo ao acaso e à improvisação, mas com pontual elaboração em determinados momentos. “Enquanto o mundo caminha para a extinção, no premonitório planeta Beckettiano, onde os seres humanos não conseguem se comunicar apesar de falarem pelos cotovelos, o humor e o riso fazem parte dessa nossa tragédia. E nada melhor que ter ao lado a companhia de dois palhaços. Por que não? A estrada é longa, cheia de curvas e encruzilhadas onde podemos nos perder”, reflete o diretor.