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21/03/2019, 12:20

O homem que xingava as mulheres

por André Cunha

Amar é complicado! Que o digam os personagens de Cat Person e Outro Contos (Cia das Letras), de Kristen Roupeniam, seres complexos e inquietantes que “buscam se envolver apesar das angustias, contradições, perversões e, sobretudo, uma dificuldade intransponível de comunicação.” Roupeniam ficou famosa em 2017 quando publicou o conto Cat Person – “a história que deu origem a mil teorias”, segundo o The Guardian – na New Yorker e bateu recordes de leituras e comentários. Muitas dessas teorias alegavam que a autora captara uma espécie de Verdade Universal em formato narrativo, uma dessas coisas mágicas que os escritores e escritoras fazem. Qual seja: a de que todo homem, por mais gentil que pareça, é meio machista.

 

O conto narra a relação frustrada entre Margot, uma mulher de vinte anos, e Robert, um cara de trinta e poucos. Eles flertam pela internet, rola um bad-date, ou encontro ruim, e ela passa a evitar o mala. Uma vez rejeitado, ele insulta Margot com aquela palavra que começa com “pu” e termina com “ta.” Fim. Como literatura, é excelente. Quanto a suposta Verdade Universal que esse pequena narrativa revela – todo macho é uma espécie de Robert -, há controvérsias.

 

Justiça seja feita, a autora também escreve sobre mulheres babacas e cruéis nos outros contos. Dos doze no total, pelo menos seis são excelentes, três bons e três medianos. O melhor é O Cara Legal, que como o nome deixa explícito fala sobre um cara legal, um nerd inofensivo, uma criatura “alegremente assexuada, absurdamente inofensiva, livre de qualquer traço de carência” que, mas isso é óbvio!, não é tão legal assim: “Quando chegou aos trinta e cinco anos, o único jeito de Ted conseguir ficar de pau duro e continuar assim durante toda a relação sexual era imaginando que seu pênis era uma faca e que a mulher que ele estava comendo esfaqueava a si mesma.” Esse ser altamente imaginativo é ainda mais específico do que Robert ao verbalizar sua dor de cotovelo: “Sua puta desgraçada, sua piranha burra desgraçada.”

 

Desgraças à parte, o texto de Roupeniam é envolvente. Se ela diz que faz ou acha que faz literatura feminista, pouco importa. Apenas leia.

 

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