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08/04/2019, 00:40

Usuários e trabalhadores das políticas de assistência social reclamam de “desgoverno”

Com a participação de representantes do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), de catadores de materiais recicláveis e de outros usuários do Sistema Único de Assistência Social (Suas), a Câmara Legislativa do Distrito Federal realizou audiência pública. Recursos insuficientes, déficit de servidores na área, problemas na gestão das políticas e falta de espaços para participação social foram algumas das queixas apresentadas. Usuários e trabalhadores da assistência social dirigiram duras críticas ao governo de Ibaneis Rocha, usando expressões como “desgoverno” e “desmonte”.

À frente da audiência, a deputada Arlete Sampaio (PT) se comprometeu a encaminhar, oficialmente, as demandas e reivindicações ao governador e ao chefe da pasta, que não enviou nenhum representante para o debate. A parlamentar, que foi secretária de Assistência Social em 2011, lamentou que as políticas públicas da área estejam “em xeque” no DF e em todo o Brasil e cobrou a instalação do Conselho de Assistência Social (CAS): “Em três meses de governo, ainda não foram feitas as nomeações necessárias. Esse é um fórum de participação, e ele precisa existir e funcionar”.

Para o agente social e ex-morador de rua Rogério Soares de Araújo, conhecido como Barba, o GDF não tem interesse no funcionamento do CAS porque não quer ser fiscalizado – uma das atribuições do colegiado. “É um desgoverno o que governo está fazendo. Estão desmontando as políticas. Hoje nem nos recebem, somos barrados. Mas, se for preciso, vamos ocupar a Secretaria de Desenvolvimento Social e fazer greve de fome”, afirmou. Na opinião de Barba, o fato de o governo não ter enviado um representante para participar do debate desta manhã já demonstra o “desmonte” da pasta: “Não querem ouvir a gente”.

A história pessoal de Rogério Barba se mistura a diversas políticas públicas de assistência social. Nascido na rua em São Paulo, ele foi abandonado pelos pais e foi encaminhado a um orfanato, onde viveu até os 18 anos. Seu próprio nome lhe foi dado por um juiz. Ao sair da tutela do Estado, Barba perambulou pelas ruas de várias cidades, até chegar a Brasília em 2010. Aqui ele teve amparo para sair da rua (e deixar o crack). A partir disso, Barba trabalhou como porta-voz do projeto social da revista “Traços” e hoje tem um programa na TV Comunitária sobre a vida nas ruas. “Sou fruto de uma Sedesthmidh (Secretaria de Desenvolvimento Social) onde se dialogava”, conta.

Barba ressalta que as políticas públicas de assistência social têm de ser “pensadas em conjunto”. Para exemplificar, ele diz que não adianta o governo acolher pessoas em situação de rua por três meses e depois devolvê-la para as ruas: “Estão rasgando dinheiro”. Para quebrar esse ciclo, ele insiste ser preciso oferecer capacitação e oportunidades de emprego também.