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30/10/2018, 14:30

A banalidade do bem

por André Cunha

“Quem quer aprender deve começar olhando à sua volta”, a frase-tema de Hippie, o último livro de Paulo Coelho publicado pela editora Paralela, é uma daquelas platitudes filosóficas que não querem dizer nada. Há muitas outras nesse romance banal sobre um brasileiro que se envolve com uma holandesa durante uma viagem ao Nepal em 1970, como “Somos tudo e todos ao mesmo tempo – tempo que, por sinal, tampouco existe” e “A planta produz a flor para que as abelhas venham e possam criar o fruto. O fruto produz sementes, que de novo se transformam em plantas, que outra vez fazem as flores desabrocharem, que chamam as abelhas, que fertilizam a planta e fazem com que produza frutos até o final da eternidade.”

 

O que o leitor aprende ao ser exposto a tão poética lição de botânica ecossistêmica? Nada que já não tenha assimilado na quinta série do ensino fundamental. E qual é a nova abordagem lançada sobre a geração hippie dos anos 60? Nenhuma. Em seu livro “mais autobiográfico”, onde consta uma fotografia do jovem Sr. Coelho magrelo e cabeludo no frescor dos vinte anos, cortesia do acervo pessoal do autor, os hippies são descritos como “evangelistas da paz e do amor” que sonhavam com um mundo “finalmente livre da opressão, do ódio.” Afinal, não se podia deixar que “o moralismo, a hipocrisia e a mentira ocupassem os dias e noites de quem caminhava por esta terra.” Imagina! Santa ingenuidade, caro mago!

 

Uma versão alternativa sobre o assunto pode ser encontrada no romance Partículas Elementares (editora Sulina), de Michel Houellebecq, escritor francês que desconstrói várias mitos a respeito da época: hippies não eram santos, a revolução sexual foi menos revolucionária do que parece e provocou vários traumas psicológicos. Provocante? Fato. A única coisa que Paulo Coelho provoca, por sua vez, é tédio. Quem quer aprender algo de diferente sobre a época deve começar procurando outro livro.

 

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