30/10/2018, 14:58
Que tiro foi esse, delegado?
por André Cunha
João Higino, personagem inspirado em Lula, diz “temos que entancar a sangria” referindo-se às investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, frase cunhada, no mundo “real”, pelo senador Romero Jucá em célebre diálogo prodigalizado com o então presidente da Transpetro Sérgio Machado. FATO.
A distorção deliberada faz parte de um perverso mecanismo internacional de difamação orquestrado pela Netflix e por José Padilha. MITO (Tudo que se pode exigir de uma obra de ficção, ainda que inspirada em fatos reais, é que seja verossímil. Num contexto onde vários políticos falam várias coisas parecidas, cabe aos roteiristas encaixar, em determinados contextos, aquelas que soam bem, que encaixam na trama. Não só é verossímil que um personagem como João Higino use uma expressão como “estancar a sangria” como o próprio Lula, de fato, falou coisas até piores sobre o mesmo assunto. É como se, ao assistir Narcos, sobre o tráfico de drogas na América Latina, o espectador questionasse: “Mas essa frase não foi dita pelo chefão do Cartel de Medelín e sim do cartel de Cali!” Estranho seria se Higino dissesse: “todo poder à Lava-Jato” ou “que prendam todos os corruptos.” De resto, como exigir rigor historiográfico de uma série de ficção? Existe fake-news, mas não existe fake-fiction. A ficção é sempre fake. Satirizar, dramatizar e distorcer a realidade são algumas das suas ferramentas desde que o mundo é mundo.)
O delegado Marco Rufo, interpretado por Selton Mello, dá um tiro na própria cabeça e depois reaparece sem qualquer sequela: “Todo mundo achou que eu tinha morrido. Mas não era minha hora. A bala bateu na quina do osso estenoide, desviou pra baixo num angulo oblíquo e saiu pela base do maxilar direito. O médico disse que isso acontece uma vez a cada três mil tentativas de suicídio. É, foi um baita milagre.” FATO.
O roteiro é amarradinho. MITO (Quina do osso estenoide? Ângulo oblíquo? Como assim?)
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