30/10/2018, 15:09
Por que chineses medievais estão vestidos como os Power Rangers?
por André Cunha
Quando se pensava que o fenômeno do whitewashing (prática segundo a qual atores brancos interpretam personagens historicamente não-brancos) tinha chegado ao auge com o escalafobético Deuses do Egito (2016), no qual o escocês Gerard Butler fazia o papel da divindade Set e o dinamarquês Nikolaj Coster-Waldau o de Horus, eis que chega aos cinemas brasileiros nessa quinta, dia 23, o insuperavelmente horroroso A Grande Muralha (2016).
Chineses o filme até tem, a começar por um monte de figurantes e pelo diretor Zhang Ymou, em cujo currículo constam filme como Herói (2002) e O Clã das Adagas Voadoras (2003). Mas, focando num grupo de mercenários europeus liderados por Matt Damon, a coprodução entre China e Estados Unidos se vale dos piores cacoetes dos filmes de ação norte-americanos pra contar uma história bisonha passada na muralha da China durante a dinastia Song (960 – 1279 D.C). Construída ao longo de 1.700 anos e cobrindo quase 9.00 quilômetros (pense num investimento de longo prazo), o colosso serve de cenário pra uma barafunda de cenas de batalha confusas e fetiches imperiais repetitivos.
E do que os chineses estavam tentando se proteger empilhando pedras durante tantos séculos? De monstros alienígenas que parecem saídos de algum filme catástrofe de J.J Abrams. Imensos, fazendo barulhos cavernosos, digitalizados ao ponto de parecerem personagens de videogame, tais criaturas prodigalizam lutas sangrentas contra chineses trajando figurinos que lembram a franquia infanto-juvenil Power Rangers.
Incontáveis cenas de explosão, europeus conspirando em inglês enquanto chineses correm como formigas de um lado pro outro, monstrengos, batalhas. Nem os quase os 9.000 quilômetros de muralha foram capazes de proteger a cinematografia chinesa do lado mais mercenário da globalização e da invasão cultural hollywoodiana.
Tags: cinema; a grande muralha