19/09/2019, 10:01
Seu desejo é uma ordem (do capeta)
por André Cunha
“Qual é o desejo do homem que tem tudo?” A frase-gancho que estampa a capa do livro Deserto dos Desejos, escrito por Pablo Amaral Rebello e publicado pela editora Constelação, faz pensar naqueles príncipes sauditas com dezenas de mulheres no harém e bilhões de dólares na conta bancária. Ou nos superatletas que ganham numa hora a quantia que um simples mortal amealha à duras penas durante a vida inteira. O que uma pessoa assim poderia desejar que já não estivesse ao alcance dela?
Aqui a mitologia grega dá uma pista. O maior desejo dos heróis da Antiguidade clássica era ultrapassar o “mar de Lete”, ou mar do esquecimento, e entrar pra História. Mais do que algo material, o que buscavam era reconhecimento, fama, posteridade. Não ser esquecido, nesse sentido, é o mais perto que se pode chegar da imortalidade. É mais ou menos esse o plano engendrado por Anton Christian, o protagonista de Deserto dos Desejos – um jovem bilionário que “sempre teve tudo que o dinheiro pode comprar” – ao encontrar um gênio misterioso no Egito que concede desejos àqueles que o procuram.
Ficou curioso? Então não deixe de comprar no site da editora o livro de Rebello, brasiliense da gema, jornalista com passagens pelo Correio e pelo Globo. Um page-turner (vira-páginas, história que se lê num fôlego), Deserto dos Desejos é uma obra sem grandes pretensões literárias, mas escrita com inegável profissionalismo. Como os personagens circulam pela Europa e Oriente Médio, nada faria supor tratar-se de um livro escrito por um brasileiro. Ideal pra se ler em viagens ou estirado na rede numa tarde de domingo, poderia estar à venda em bancas e livrarias de aeroportos de qualquer lugar do mundo. Dançarinas misteriosas, caçadores de monstros, executivos inescrupulosos e criaturas sobrenaturais desfilam pela saga de Anton, enredado numa trama de rituais secretos e interesses milionários. Criaturas que dão vida ao texto, costurando uma narrativa simples porém vibrante. Entretenimento garantido.
Tags: literatura, Pablo Amaral Rebello