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26/11/2019, 17:34

Arandu – Lendas Amazônicas chega ao CCBB

“Arandu – Lendas Amazônicas”, espetáculo que passou pelo CCBBB Rio em 2018, estreia no CCBB Brasília (29/11 a 01/12), levando para o teatro histórias de lendas indígenas em forma de dramaturgia – a peça está em tour no mês de novembro e já passou pelos CCBBs de Belo Horizonte e São Paulo. A direção e concepção é de Adilson Dias, um menino que viveu em situação de rua na década de 1990 e que foi amparado pela arte quando morava nas ruas da Candelária (RJ) e passava pelo CCBB RJ para tomar água. O trabalho de pesquisa durou um ano e meio e o diretor e autor carioca de 38 anos mergulhou fundo no universo das lendas amazônicas. No palco, uma índia vivida pela atriz macapaense Lucia Morais conta histórias da grande floresta em uma viagem imaginária pela nossa ancestralidade indígena. “Arandu” é apresentado e patrocinado pelo Banco do Brasil.  A entrada é gratuita.

Durante 40 minutos os espectadores (adultos e crianças) assistirão a quatro histórias: “Lenda do dia e da noite”, que fala de uma tribo que vivia em agonia por que não havia noite, só havia dia, “Lenda da vitória régia”, a história da guerreira Naiá, “A Lenda da Fruta Amarela”,  que conta a história de um novo fruto que aparece na floresta, e “A lenda do açaí”, sobre a crise de alimentos que assolava uma tribo indígena. A ideia principal é transpor o público, através de um passeio poético, para as lendas amazônicas, a um Brasil ancestral que traz na narrativa oral o veículo de perpetuação da cultura. De acordo com Adilson Dias, o espetáculo é uma contação de histórias adaptadas para a dramaturgia, bem lúdico e intimista. “Penso em trazer a plateia para viajar no mundo mágico das lendas amazônicas. Eu espero que o público se sinta como se estivesse na beira de um rio ouvindo histórias, do jeito que Lucia me contou que sua avó fazia quando ela era criança”. No dia 29 (sexta-feira) haverá bate-papo com o diretor após a sessão.

“Arandu” é interpretado pela atriz Macapaense Lucia Morais que se inspirou na própria infância ribeirinha no interior de Macapá para compor a personagem – Lucia ouvia histórias contadas por sua avó na beira do rio quando era criança. “Conheci Lucia pelo Facebook, me apaixonei pelo trabalho dela com contação de histórias e a proliferação da leitura. Começamos a conversar sobre levar aquilo para o teatro e assim foi nascendo o espetáculo nas nossas cabeças”, diz Adilson.

Tradições orais

No dialeto tupi-guarani, Arandu significa um misto de sabedoria e conhecimento. E foi a curiosidade por informações que levou Adilso bh bvnyn a pesquisar sobre as lendas que permeiam a região amazônica. Lendo o livro “A Queda do Céu” de Davi Kopenawa e Bruce Albert, descobriu muito mais sobre a cultura indígena para compor o espetáculo. Um outro fato que o fez penetrar, mesmo que inconscientemente, nesta seara foi que sua mãe, já falecida, era uma índia. “Minha mãe era índia, curandeira e não sabia ler e escrever. Uma figura indígena na aparência e nos hábitos, então todos a chamavam de Dona Índia”, conta.

O projeto abre uma reflexão sobre a importância das tradições orais na formação da cultura brasileira. Há milênios os índios contam histórias (lendas) para explicar sua existência no mundo ou para passar conhecimento e informação. Seja utilizando os fenômenos naturais e a própria natureza como exemplo. Com o passar do tempo as lendas tornaram-se folclore, mas ainda se revelam um amplo universo de pesquisa e contemplação artística.

O espetáculo marca a volta de Adilson Dias ao CCBB de uma forma positiva, 25 anos depois. Aquele garoto de rua que ficava pelos arredores da Candelária e passava pelo centro cultural para matar a sede, também aproveitava para respirar cultura. “Eu me sinto lisonjeado em poder excursionar com o espetáculo “Arandu – Lendas Amazônicas” entre os Centros Culturais Banco do Brasil destas  capitais brasileiras. Eu também acredito ser o resultado vivo do poder transformador da cultura existente dentro desses espaços. Foi a cultura que mudou a minha vida. Fico imaginando quantas pessoas já passaram por esses CCBBs e de alguma forma se encontraram com a cultura. Espero que o público goste do espetáculo “Arandu” e mergulhe conosco neste colorido universo indígena”, diz.

Sobre Adilson Dias

É diretor de teatro e artista plástico. Estudou teatro na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) e lecionou teatro no projeto SESI Cidadania do Sistema Firjan durante cinco anos. Em seu currículo somam-se cinco montagens teatrais e três exposições de artes visuais. Seu espetáculo de maior sucesso foi “Outra Paixão”, destaque na mídia internacional.

Dono de uma linda história de superação, o menino que engraxava sapatos na central do Brasil e andava pela Candelária, entrava no Centro Cultural Banco do Brasil para beber água e ficava apreciando as obras de artes, cresceu! Hoje é uma artista. Adilson Dias viveu parte de sua infância nas ruas do centro do Rio de Janeiro, passando por tudo aquilo que vemos pelos jornais: fome, drogas e violência. Mas encontrou na arte um caminho para mudar de vida.