12/12/2019, 08:30
Decifra-me se for capaz
por André Cunha
Uma mistura de cubismo, abstracionismo e figurativismo, o estilo de Paris Borges Bogea é difícil de definir, mas fácil de apreciar. Em cartaz com a exposição Labirintos da Alma na galeria espelho d’água da Câmara Legislativa, o artista plástico demonstra evidente perícia gráfica na composição de telas multicoloridas em que formas imprevisíveis, pintadas com contornos fortes e pinceladas vigorosas, se expandem em meio a gradações, variações, modulações, tons, matizes, nuances e detalhes pictóricos.
O passeio pela alma labiríntica de Paris Borges revela uma série de sensações, impressões e sentimentos: em Devorador de Pássaros, um cão estraçalha uma ave com violência arrebatadora; em Os Santos Inocentes, a mais clássica das obras expostas, personagens estatuescas fitam o observador com elevada serenidade; em Paisagem Onírica, um painel de tons pastéis, vê-se um cenário repleto de declives, camadas e arcos por onde andam diminutas figuras sonhadas.
Mas é nos grandes murais que o artista expressa toda a sua versatilidade e criatividade. Tanto Mural Junino quanto Labirintos da Alma (obra que inspirou o nome da exposição) pertencem ao rol de obras complexas, tortuosas e intrincadas que lembram a icônica Guernica, de Picasso (1937). Formas e texturas se misturam num caleidoscópio de cores, criando um enigma pictórico quase inescrutável. Quase porque é possível desfrutar a experiência, desde que tal desfrute se dê com um mínimo de curiosidade.
Ou, como diz Wendy Beckett em História da Pintura, publicado no Brasil pela Editora Ática: “o que alguns consideram difícil na arte abstrata é o esforço intenso e demorado que se faz absolutamente necessário. Mas, se não olharmos por um longo tempo e com a mente aberta, veremos apenas o que poderia ser um excelente papel de parede.”
Então se esforce. Olhe bem. E repare.
Tags: artes plásticas, paris borges