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26/12/2019, 09:20

A cura da fibromialgia

por André Cunha

Tomada por dores excruciantes no corpo inteiro, infeliz no casamento, rejeitada pelo marido, exausta por cuidar sozinha de dois filhos, Lina, uma das personagens retratadas no excelente Três Mulheres, de Lisa Taddeo (HarperCollins), ouve um bom conselho de um médico especialista em hormônios: “Lina, ele diz, talvez isso não seja a coisa mais clínica que eu possa dizer, mas tive muitas pacientes que se curaram com um bom orgasmo.”

De fato, após consumar um intercurso sexual com um colega de adolescência por quem sempre fora apaixonada, Lina sente uma paz que nunca sentira: “a fibromialgia costuma deixar seu corpo incandescente de tanta dor, mas no quarto de hotel naquela noite ela se sente feliz e seus ossos não doem. É inacreditável que ela não sinta nenhuma dor.” O remédio vira veneno, Lina fica insanamente, perdidamente apaixonada e se humilha de todas as formas pra conseguir mais uma dose, mais um encontro, mais um beijo. Com uma pegada meio Mulheres que Amam Demais, de Robin Norwood (Arx), e meio Românticos Incuráveis, de Frank Tallis (Faro Editorial), Três Mulheres conta histórias de amor dilacerantes e obsessivas que flertam com a loucura. As outras duas personagens são Maggie, uma adolescente apaixonada por um professor, e Sloane, uma mulher casada envolvida com troca-troca e swing.  Todas as histórias são reais, colhidas por Taddeo ao longo de centenas de entrevistas – o livro é catalogado como “crônicas americanas.”

Além da cura da fibromialgia, encontra-se aqui um porção de descobertas, sonhos, segredos, sentimentos e delírios que escancaram a alma feminina. Todas as personagens sofrem terrivelmente por amor, acreditam em quimeras, sonham coisas inverossímeis, idealizam o impossível e lidam com frustrações atrás de frustrações e decepções atrás de decepções. O que  torna o livro delicioso de ler é que essas pequenas tragédias são narradas com incrível bom humor, numa linha tênue entre o cinismo e o lirismo. Descrito como o livro “mais comentado do ano” no site da Amazon, Três Mulheres vem coalhado de elogios de gente como Jojo Moyes e Gwyneth Paltrow. O Washington Post o chamou de “extraordinário.” Merecido.

 

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