12/03/2020, 07:11
A Mulher Imbatível
por André Cunha
Todos acham que Cecilia (Elizabeth Moss) está louca. Também, pudera. Após fugir de um relacionamento abusivo e receber a notícia que o ex – um gênio dos estudos óticos descrito como um “narcisista sociopata” – se matou, ela passa a sentir a presença do sujeito a observando e aterrorizando. Com um detalhe: ela não pode vê-lo. Convencer o mundo que não está louca coisíssima nenhuma e que o mala bolou um meio de persegui-la sem ser visto é a trajetória que a heroína de O Homem Invisível (2020), em cartaz nos cinemas, terá de percorrer.
Inspirada no livro homônimo de H.G Wells e dirigida por Leigh Whannell, a adaptação se vale do talento de Moss pra explorar um assunto espinhoso: o abuso emocional. Alçada ao patamar de ícone feminista pela série O Conto da Aia (pra não falar na publicitária Peggy Olson, de Mad Men), ela encarna na atormentada Cecília um caleidoscópio de emoções: medo, raiva, terror, pânico, força, determinação, resiliência e um bocado de fúria. A alternância dessas emoções, diluídas em cenas nas quais o terror é apenas sugerido em vez de escancarado, dá musculatura ao filme.
Há um porém. Como em muitos thrillers de suspense, esse cria um clima interessante e encaminha bem a história, mas estraga tudo com um final descuidado e implausível. Outro problema é a vilania extrema do stalker que não deixa Cecília em paz. Um homem possessivo cujo único objetivo na vida é supliciar a mulher que o rejeitou, o gênio dos estudos óticos é menos um personagem de ficção que um simples estereótipo. No caso, um monstro.
Mas, por abordar um tema um tema que tinha tudo pra ser panfletário de forma engenhosa, O Homem Invisível merece as boas críticas que vem recebendo (nota 7.1 no Metacritic, site que faz compilações de críticas de cinema). E Moss provou mais uma vez que é possível fazer filmes e séries com pegada feminista que são ao mesmo tempo bom entretenimento.
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