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26/03/2020, 08:19

Chame o ladrão

por André Cunha

Disponível na plataforma Netflix, a quinta temporada da série Better Call Saul, prequel (pré-sequência, história anterior) da cultuada Breaking Bad, continua narrando as desventuras do advogado de porta-de-cadeia e picareta de marca maior Saul Goodman (Bob Odenkirk). Trata-se de um caso raro de série derivada que consegue manter o nível da original e expandir seu universo sem perder a essência.

O roteiro, apesar de bem desenvolvido, peca ao retratar as vítimas dos golpes de Goodman como demasiado trouxas. Sendo o universo da história extremamente realista, a manobra soa forçada, como se só existissem patetas no Novo México, com a “honrosa” exceção do ardiloso advogado.

Fora isso, Better Call Saul  aborda de forma pra lá de inteligente um tema que tinha tudo pra ser chato: a lei. Como qualquer estudante do primeiro semestre do curso de Direito sabe, a função do advogado não é buscar a verdade, essa quimera, mas proteger os interesses do cliente, ou seja, persuadir o juiz ou o júri do seu ponto de vista. Pura retórica.

Nesses tempos politicamente corretos, Better Call Saul é um alívio. Sabe aquele verso do Fernando Pessoa que tem em Poema em Linha Reta – “Estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?” Então, aqui você acha. 

Saul é um sujeito que volta e meia “cut corners” (dá um jeitinho). Apesar de mitômano, tem carisma e inteligência emocional. É, sem suma, um malandro.

Figuras como Saul Goodman e vigaristas do tipo exercem uma função importante na sociedade: testar a resiliência do poder judiciário e motivar a modernização de regras obsoletas e/ou arcaicas, mais ou menos como hackers fazem com sistemas de segurança cibernéticos.

É uma nobre arte.