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17/09/2020, 08:34

O óbvio oscilante

por André Cunha

“Se você pesquisar no Google por Nikola Tesla, terá trinta e cinco milhões de resultados (…) procure por Thomas Edison e terá sessenta e cinco milhões” informa Anne Morgan (Eve Hewson), personagem da mais recente cinebiografia sobre o cientista austríaco. A intenção é mostrar como Tesla foi injustiçado ao longo da história, sempre à sombra do rico, célebre e marqueteiro Thomas Edison, considerado pelo senso comum como o maior inventor de todos os tempos.

Mas por que uma personagem de um filme histórico que se passa em fins do século retrasado está falando em Google? Nem tente entender. Essa é apenas uma das muitas esquisitices que pululam em Tesla (2020), dirigido por Michael Almereyda e estrelado por Ethan Hawke, uma mistura eclética de homenagem, investigação e devaneio fílmico envolvendo a elíptica figura.

Em vez de elementos cenográficos grandiosos, por exemplo, Almereyda optou por filmar diversas cenas em frente a uma tela que projetava imagens da época, recurso curioso, sem dúvida, e que deve ter barateado bastante a realização das filmagens. Some-se a isso a inclusão de passagens inventadas – “isso nunca aconteceu”, garante Anne à certa altura -, diálogos estranhos, performances exóticas e um roteiro pouco preocupado com a fidelidade aos fatos históricos.

Coroando um filme esquisito, uma atuação bisonha: Hawke está impagável, notadamente na cena em que canta Everybody Wants to Rule The World, da banda Tears For Fears (Tias Fofinhas para os íntimos).

Se Tesla não conquistou o mundo à época, vem galgando posições em resgates historiográficos e tem inspirado visionários do presente (basta lembrar que a mais bem sucedida fabricante de carros elétricos chama Tesla Inc).

Talvez chegue lá como retardatário. Quem sabe o que o Google revelará a seu respeito daqui duzentos anos?

 

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