20/04/2021, 19:04
Projeto PÉS celebra 10 anos de inclusão, teatro e dança na BDB Cultural
O tema da potência do corpo humano, muito explorado nas ciências humanas nos últimos anos, ganha matizes interessantes diante do Projeto PÉS. Unindo pessoas com diferentes deficiências e outras sem, esse grupo teatral e de dança se apresenta na BDB Cultural neste domingo, dia 25, celebrando uma década de palcos. O espetáculo propõe um jogo de movimentos que quebra perguntas do tipo “será que ele dá conta?” ao mostrar que todos os corpos têm potências e limitações, sem importar de que tipo. A transmissão, às 17h, nas redes sociais da BDB, conta com intérpretes de Libras.
Esta apresentação, gravada dentro da Biblioteca Demonstrativa do Brasil (BDB), será a celebração oficial dos 10 anos da companhia e faz uma espécie de retrospectiva da trajetória do grupo. A apresentação terá uma cena de “Wooh” (2011), primeiro espetáculo do grupo, e a versão integral de “Qual a distância de um abraço?” (2020), performance criada já no contexto da pandemia de covid-19 e que é o trabalho mais recente da companhia. Essa apresentação foi adaptada para ser realizada entre as estantes da BDB, integrando-se à biblioteca como mais que só um cenário.
“Para nós é muito importante poder celebrar 10 anos desse trabalho, melhor ainda podendo fazer isso em uma biblioteca como a BDB, que foi um espaço muito importante na minha formação. A biblioteca é mais que um espaço de livros, é um espaço de encontros e promover encontros entre diferentes pessoas, corpos, é justamente o que nós fazemos no PÉS. E é lindo poder comemorar a vida, justo quando ela está tão ameaçada. A vida da arte, da biblioteca, e dos corpos”, diz Rafael Tursi, arte-educador e criador do Projeto PÉS, diretor dos cinco espetáculos do grupo.
Além das aparências
Mesmo com 10 anos de história, cinco espetáculos no currículo, o Projeto PÉS enfrentou dificuldades para sair dos eventos específicos para pessoas com deficiência e ser aceito como um projeto de arte, entrando no circuito geral. “A gente passou muito por um pré-julgamento que considerava que a pessoa com deficiência é coitada. Às vezes, batiam palma para nós dizendo ‘ele merece, ele merece’. O Projeto PÉS quer justamente ser visto como os outros, validando nosso esforço, não colocando vários diminutivos no nosso ‘trabalhinho’. O que a gente faz é um trabalho, é difícil, é uma tentativa e erro, mas é um esforço que pode errar. Se tiver ruim, vem contar. A gente quer melhorar. Estamos no lugar de estética, de poesia, não queremos ser julgados pela aparência, mas pelo que produzimos”, conta Tursi.
Atualmente, o Projeto PÉS tem 20 atores, mas a apresentação para a BDB Cultural, em respeito às normas de distanciamento social e evitando aglomerações, recebeu apenas um duo formado pelos atores Roges Morais e Thaís Cordeiro. No espetáculo apresentado para a iniciativa, os dois criam arte a partir da impossibilidade de contato, aparecem em cena em movimentos fluídos, cada um completamente paramentado com EPIs — equipamentos de proteção individual — como face shields, luvas, máscaras e jalecos. Esse contexto de mistura de saúde com dança tem tudo a ver com a história do grupo.