07/10/2021, 12:12
Fome
Dia desses, minha empregada compartilhou reminiscências de seu passado, histórias de fome e de como foi, aos seis anos, morar com uma senhora, por quem fazia os serviços da casa em troca de sobras de comida para a família.
Diante desta realidade, vivida por ela há quase quatro décadas, mas que, sabe-se, ainda acontece pelo Brasil, entendo quem critica empregadores domésticos, inclusive atribuindo à classe média uma pretensa rejeição a ações de inclusão social e combate à pobreza, apenas para garantir a oferta de mão de obra mal remunerada que a libere das chatas tarefas do lar.
Acredito, porém, que, desde a aprovação do estatuto das domésticas, que regulamentou a profissão e lhes concedeu direitos, não há grandes diferenças entre elas ou qualquer outro empregado celetista de baixa escolaridade.
Penso que este discurso equivocado repele àqueles que devem engajar-se na luta que realmente importa: a garantia da segurança alimentar, estudo, saúde e trabalho para todos. E, quando se fala em trabalho, mais do que contrapor-se a quem contrata, com a estrita observância da lei, uma babá, faxineira ou jardineiro, é fundamental enfrentar as mudanças nas leis que admitem sua precarização e a falácia neoliberal que romantiza o empreendedorismo do trabalhador uberizado.
Há que se priorizar a educação, para que, com qualificação, todos consigam melhores empregos ou se tornem empresários competitivos. Há que se investir em ciência e tecnologia, para evitar que as atividades domésticas dificultem às pessoas, em especial, às mulheres, a edificação de uma carreira profissional.
E, definitivamente, há que se dificultar a ação de especuladores financeiros que ganham dinheiro sem esforço, sem produzir nada, sem gerar empregos ou, sequer, pagar impostos. Neste sentido, é fundamental exigir de nossos governantes a adoção de políticas de distribuição de renda, ao invés daquelas que ampliam fortunas enquanto devolvem milhões de brasileiros à situação de miséria de décadas atrás.