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21/10/2021, 11:46

Sentimentos

Há alguns meses, discutindo com uma amiga que dizia não ser justo atribuir as mortes por COVID no país ao presidente, citei o depoimento do epidemiologista Pedro Hallal à CPI, onde ele ponderou que cerca de 80% delas poderiam ter sido evitadas se o Brasil tivesse adotado políticas medianas de combate à pandemia. Ela retrucou, afirmando não se comover pela comissão. Respondi que emocionar não seria mesmo o objetivo do inquérito e, tampouco, da ciência.
Mordi a língua. A maioria das revelações resultantes dos trabalhos no Senado realmente foram apenas a confirmação da incompetência deste governo em enfrentar a crise, o que não surpreendeu ninguém, dada a inépcia já demonstrada por ele, em todas as áreas, desde a posse.
Porém, outras descobertas foram surgindo ao longo das investigações. Corrupção na compra de vacinas, experiências não autorizadas em humanos no Amazonas e eutanásia de pacientes complicados foram algumas das suspeitas apresentadas e que fizeram aflorar sentimentos vários, uns muito ruins, como raiva, tristeza, revolta… O chocante testemunho dos familiares de vítimas da doença na última segunda-feira foi tão angustiante que forçou até a substituição do tradutor de libras, abalado demais para prosseguir. Para quem não se identifica com um sociopata que em meio ao caos, imitou uma pessoa sufocada, desdenhando repetidamente do sofrimento do seu povo, foi impossível evitar a empatia.
Agora que o relatório foi lido e atribuiu a cada qual a sua culpa, mais emoções aparecem. Gratidão pelos resultados já alcançados, como o avanço na vacinação e a interrupção dos esquemas ilícitos que se desenhavam no Ministério da Saúde, alívio porque, apesar das disputas internas, as apurações conseguiram chegar ao seu final, esperança de que os responsáveis por agravar essa tragédia sejam punidos e, a despeito disso tudo, a certeza de que a batalha não está ganha, principalmente, porque ainda há gente que, simplesmente, não se emociona com tudo isso.