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10/03/2022, 16:22

Admiráveis

– Feliz dia da mulher!!
– Aff, Helena! Até você? Tem nada que comemorar nesta data.
– Ôxi, dona Zuleica! Que amargura é essa? Tá parecendo aquela sua amiga que não gosta do Natal porque tem gente passando fome.
– Ai, Helena! Desculpa. É que já recebi um monte de mensagem cuti-cuti aqui no zap, de gente que não esconde machismo, uma hipocrisia danada!
– Eu sei como é. Dá raiva mesmo. Mas eu gosto. Roberto tava todo meloso.
– Uma data tão macabra, com mulheres sendo queimadas por lutarem por seus direitos trabalhistas. Mas, pelo menos, serviu para colocar a luta feminista em evidência.
– Acredita que tem gente que acha que não precisa mais dessa luta.
– Acredito. Até mulheres. E não adianta dizer que os direitos que elas têm foram conquistados na marra, por mulheres que morreram e até mataram para isso. Em geral, são mulheres que conquistaram espaços em que as diferenças de gênero impactam pouco suas vidas.
– É nada, dona Zuleica! Lá na igreja, tem mulher que apanha do marido e acha que feminismo é coisa do diabo.
– As igrejas contribuem muito para essa submissão da mulher. Existe a falsa correlação entre famílias desfeitas e mulheres independentes, conscientes dos seus direitos. Além disso, a luta por minorias sempre foi uma bandeira socialista e, por isso, combatida por postulantes da extrema direita.
– Igual àquela besta do Bananinha, dizendo que o metrô lá de São Paulo desabou porque prioriza a contratação de mulheres?
– Exato. Eu não acredito que ele pense isso. Tem uma filha, deve querer o melhor para ela. Mas esse discurso alimenta a base mais radical do pai dele, que, se pudesse, retirava até nosso direito de voto, que foi a primeira das bandeiras feministas.
– O pai dele, com certeza. Se depender da mulherada, não ganha nem eleição de condomínio.
– Ele é misógino! Não só não acredita na igualdade de gêneros, mas se sente ameaçado por ela. Ele e grande parte dos seus seguidores.
– Tinha que ter mais mulher na política.
– Seria lindo. Mas é difícil. Há pouco incentivo, tem partido que, para usar a verba das cotas de gênero, apresenta candidatas laranja…
– E, quando uma mulher chega lá, os homens derrubam, igual a Dilma.
– A questão do impeachment da Dilma é um pouco mais complexa que mera misoginia, Helena. Envolve luta por poder, principalmente econômico, a falta de jogo de cintura dela…
– Pra entrar nos esquemas.
– Né? Acabou se isolando. Deu no que deu. Você viu a pesquisa em que ela está entre as cinco mulheres mais admiradas do país?
– Foi? Merecido! E a Damares? Tá nessa lista?
– A Damares!? Não! Por que seria admirada?
– É tão machista! Me admira aquilo ali ser mulher.