21/04/2022, 11:38
Espetáculo com Ruth Guimarães fala sobre os sabores e dissabores da velhice
Duas atrizes precisam entrar em cena e o terceiro sinal está próximo. Como construir um espetáculo neste curto espaço de tempo? Frida (Fátima Lacerda) e Raquel (Ruth Guimarães) estão em apuros e só a vivência de cada uma sobre a vida e sobre a Arte – também a arte de viver – poderá salvá-las. Foi pensando em questões sobre o envelhecimento e, também, sobre um reposicionamento das pessoas da terceira idade mediante a vida em tempos modernos, além da nova maneira de se relacionar com a tecnologia crescente somada à convivência com os jovens desta geração tecnológica, que as atrizes/diretoras radicadas em Brasília, Fátima Lacerda e Ruth Guimarães, se juntaram ao diretor conceituado de São Paulo (SP), Lucas Sancho, para conceber o espetáculo teatral Memórias Com Prazer e Resistência.
A obraque conta comopatrocínio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF) e com a dramaturgia colaborativa entre Fátima, Ruth e Lucas poderá ser conferida em Escolas do Ensino Médio Público do Distrito Federal e pelo público, em geral.
A estreia do espetáculo Memórias Com Prazer e Resistência, totalmente gratuita, será na Escola CEMAB – Centro de Ensino Médio Ave Branca (QSA 3/5 – Área Especial – Taguatinga Sul) no dia 26 de abril, terça-feira, às 20h. Ainda no local, haverá sessão no dia 27 do mês, às 11h. Logo após, a produção passará pelo Centro Educacional 3 – Centrão, no GuaráII (QE 17/19 – Área Especial), em apresentações nos dias 28 de abril, às 10h40, e no dia 29 do mês, também no mesmo horário. Para finalizar a circulação de Memórias Com Prazer e Resistência na capital federal nesta primeira etapa, nos dias 30 de abril e 1º de maio terão também sessões abertas no Teatro Sesc Paulo Autran (CNB 12 – Área Especial 2/3 – Taguatinga Norte), sempre às 20h. Entrada franca. Livre para todos os públicos.
Como res-significar atitudes e conceitos em relação à velhice no que diz respeito a sua sexualidade, à sua militância política, ao abandono, a ausência de mercado e, em especial, no teatro? Como driblar o descaso não só dos familiares, mas da sociedade como um todo? Como administrar poeticamente as mazelas da velhice? Este é um dos questionamentos da atriz e dramaturga Ruth Guimarães ao conceber o embrião deste projeto. Aos 75 anos, Ruth é reconhecida na capital federal por suas obras e interpretações premiadas.
Agora, ela estará em cena ao lado da também atriz premiada Fátima Lacerda que topou encarar o desafio de discutir no palco sobre o fazer artístico, o mercado de trabalho para pessoas idosas e o viver em tempos de abandono. E é por meio da metalinguagem, que elas criaram estas duas personagens (Raquel e Frida), um dueto que oscila entre lapsos de memória, conflitos artísticos e, ainda, reflete sobre a atual história brasileira e sobre os rumos do teatro.
Vivências –
Ruth Guimarães conta que construiu a dramaturgia, apoiada principalmente nas suas vivências de pessoa idosa, como cidadã e atriz. “Aumentando sempre minha lente, na relação com temas e situações relacionadas ao envelhecimento encontrei, talvez pretensiosamente, um jeito literário, possível de provocar um reposicionamento das pessoas velhas diante da vida, aqui e agora”, diz.
Pensando em seduzir os jovens também para essas reflexões, o texto, pretende dialogar com a geração y/z, jovens que já nasceram dentro do mundo digital e que, pelo menos, no tempo da peça, possam estabelecer uma reflexão real na sua postura com as pessoas velhas, em especial, com seus velhos, e quem sabe, com sua possível velhice.
“Como não tenho vocação para tragédias, muito menos para dramas, procurei trilhar um caminho dramatúrgico, poeticamente descontraído para essas reflexões, e assim, quem sabe, bordar sonhos em uma colcha de retalhos, com fragmentos de textos de Fátima Lacerda, Paulo Pontes/Chico Buarque, Ricardo Guilherme e Lucas Sancho, como um dionisíaco provocador do nosso principal argumento”, conta Ruth Guimarães.
Na construção do texto, Ruth destaca a parceria e participação da atriz Fátima Lacerda, companheira de palcos e de vida, e do diretor Lucas Sancho.
“Eu fiquei honrado quando a Ruth e a Fátima me chamaram para dirigir este espetáculo. As conheci em Brasília, em um Festival. E elas quiseram contratar um diretor mais novo para provocar este novo olhar. Um olhar de troca e de uma pessoa mais nova, de uma nova geração, até tecnológica, para passar algo que não seja absoluto ao público. E, sim, como a própria arte e vida pedem, uma troca somática”, destaca, feliz, o diretor.