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24/01/2019, 12:06

Desacertos em série

por André Cunha

Um dos livros mais divertidos dos últimos tempos, Você (Rocco), da norte-americana Caroline Kepnes, conta a história de um psicopata charmoso por quem o leitor acaba, através de diabólicos mecanismos narrativos, torcendo. O romance de estreia de Kepnes arrancou elogios da crítica e despertou o interesse do mercado. O Netflix adaptou já adaptou pras telinhas. A primeira temporada está disponível no site.

 

O resultado é um daqueles típicos casos de livros pessimamente adaptados. Tramas paralelas que nada acrescentam à história – estão lá para encher linguiça, dito de forma clara -, temas importante abordados com negligência, mudanças infelizes de foco narrativo, edição descuidada e atuações, hmmm, profissionais, pra dizer o máximo. Penn Badgley e Elisabeth Lail se esforçam pra dar vida ao casal disfuncional Joe Goldberg e Guinevere Beck, mas falta algo: o humor.

 

Porque Você é essencialmente livro um livro engraçado, repleto de situações absurdas e comentários sarcásticos. A trama policial, onde não faltam momentos de franco pastelão, funciona ali como mero recurso narrativo. O tema, o ponto central, são as relações afetivas na era das redes sociais e todo o pacote que vem junto: falta de privacidade, exposição da intimidade, vulnerabilidade contra loucos perigosos disfarçados de bons garotos, etc. Ou seja, o lado tragicômico da coisa.

 

Há muito de trágico e pouco de cômico na série. Vendida como um thriller psicológico, ela tem ambientação sombria, abertura macabra (filetes de sangue que se infiltram no título ao som de barulhinhos cavernosos) e um monte de flaskbacks que “explicam” a origem dos personagens, como se algo tivesse que ser explicado. Pior, certos assuntos são abordados com seriedade: violência domestica, vício em drogas e assédio sexual no meio literário – leia-se professores e editores que agem como trogloditas ao se deparar com jovens e belas escritoras. De onde saiu tudo ? Como um livro tão jocoso deu origem a algo tão pretensioso? A grande sacada de Kepnes foi fazer o leitor torcer pelo vilão. E tudo que a série consegue é fazer o espectador torcer pelo final – e rápido.

 

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