08/04/2023, 08:36
30 mil brasileiras são diagnosticadas com cânceres ginecológicos a cada ano
Durante o mês de conscientização, é fundamental ir além do câncer do colo do útero e abordar também outros tumores que atingem o aparelho reprodutor feminino. Oncologista comenta como identificar, prevenir e tratar
Ao longo do mês, a campanha “Março Lilás” vem para alertar sobre a prevenção e conscientização do câncer do colo do útero, o terceiro tipo de câncer que mais afeta as mulheres, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Esta data, no calendário, deve ser também uma oportunidade para ampliar a conscientização sobre outros tipos de tumores ginecológicos, entre eles os de corpo do útero (endométrio) e ovário. Juntos, os cânceres que afetam o sistema reprodutor feminino correspondem a mais de 30 mil novos diagnósticos todos os anos e ainda esbarram na falta de conhecimento sobre prevenção e formas de detecção precoce, essenciais para frear as taxas de letalidade pela doença.
O Inca aponta que para 2023 são esperados 17.010 novos casos de câncer de colo de útero, mais comum em mulheres consideradas jovens, na faixa dos 35 a 44 anos. Já os tumores ovarianos e de corpo uterino se tornam mais prevalentes naquelas acima de 50 anos e são responsáveis por mais de 6.500 novos diagnósticos a cada ano, respectivamente.
De acordo com a oncologista da Oncoclínicas Brasília, Andreza Souto, mais de 97% dos casos de câncer do colo do útero são causados por infecção persistente por HPV. “A neoplasia está relacionada ao contágio pelo Papilomavírus Humano (HPV). Segundo o Ministério da Saúde, 75% das brasileiras sexualmente ativas entrarão em contato com esse vírus ao longo da vida, sendo que o ápice da transmissão se dá na faixa dos 25 anos. Dentre os fatores de risco que contribuem para o surgimento da doença estão o começo precoce da vida sexual, tabagismo, múltiplos parceiros e uso prolongado de anticoncepcional. É importante ressaltar que, por vezes, o tumor não apresenta sintomas na fase inicial. Nos casos mais avançados podem acontecer sangramentos vaginais intermitentes, secreção vaginal anormal ou dor abdominal após o ato sexual”, afirma.
Desde 2014, a vacina contra o HPV é oferecida gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) no Brasil e está disponível atualmente para todas as crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. “Ela resulta numa resposta imune 10 vezes mais eficiente que a viral. A vacina Tetravalente evita a infecção pelo HPV tipos 6,11,16 e 18. Os subtipos 16 e 18, chamados também de alto risco, estão relacionados a 70% dos casos de câncer de colo uterino. Todas as vacinas possuem a produção de anticorpos próximas a 100%.”, explica a especialista.
Sintomas de tumores ginecológicos
Considerado grave e silencioso, em 75% dos casos o câncer ginecológico é descoberto em estágio avançado. Contudo, alguns sintomas podem indicar que algo está errado com o corpo, por isso, fique de olho se houver:
? Sangramento vaginal anormal
? Febre recorrente
? Inchaço abdominal
? Gases
? Dor pélvica persistente, não restrita ao período pré-menstrual
? Dor de estômago
? Alterações intestinais
? Fadiga
? Vulva e vagina com feridas
? Perda de peso sem motivo
? Dor durante o ato sexual
? Náusea, diarréia ou vontade muito frequente de urinar
Fatores de risco
? Câncer do colo do útero: infecção pelo HPV, multiparidade, HIV, tabagismo e constante troca de parceiros (múltiplos parceiros), uso prolongado de pílula anticoncepcional (5 ou mais) em mulheres com infecção por HPV.
? Câncer de ovário: idade superior a 40 anos (risco aumenta após a menopausa), histórico familiar de câncer de ovário, infertilidade, endometriose, e síndromes hereditárias como a presença de mutações nos genes BRCA1/2.
? Câncer de endométrio: menarca precoce (antes dos 12 anos) ou menopausa após os 52 anos, mulheres que nunca tiveram filhos, idade acima dos 50 anos, obesidade, diabetes, ou que realizaram terapia de reposição hormonal de maneira inadequada após a menopausa.
? Câncer de vulva: As causas do câncer de vagina são ainda desconhecidas, mas a infecção por HPV aparece como fator de risco. Já o câncer de vulva ocorre predominantemente em mulheres de 65 a 70 anos, e geralmente se apresenta como uma úlcera ou placa.
Tratamento
O tratamento adequado para os cânceres ginecológicos depende de vários fatores como: local da neoplasia, se existe metástase, estado clínico do paciente e até mesmo se tem outros casos da doença na família. Para cânceres ginecológicos as opções de tratamento podem ser: cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia-alvo e imunoterapia. “O tratamento muda de acordo com o local da doença, estágio que ela se encontra, condições da paciente. O oncologista clínico juntamente com o cirurgião irão discutir qual as melhores opções terapêuticas para cada caso”, comenta a oncologista da Oncoclínicas Brasília.
Rastreio da doença
Quanto ao rastreamento dos cânceres ginecológicos, o Papanicolau é uma maneira de identificar as lesões pré-malignas antecipadamente. O exame pode
ajudar a diagnosticar precocemente o câncer do colo do útero e evitar que o tumor seja encontrado em estágios mais avançados, prejudicando o tratamento.
Nos casos de câncer de ovário e endométrio, o médico pode solicitar exames clínicos ginecológicos, laboratoriais e também de imagem que ajudam a identificar a presença de nódulos, espessamento endometrial, massas suspeitas ovarianas e até ascite ou acúmulo de líquidos em casos de doenças mais avançadas. Contudo, se houver suspeita de câncer de ovário, por exemplo, é necessária uma avaliação cirúrgica para melhor avaliar a extensão da doença. Além disso, o raio-x ou tomografia computadorizada do tórax pode auxiliar na análise de alterações pulmonares que podem justificar uma doença metastática como derrame pleural ou metástases pulmonares.
Já no caso do câncer vulva a colposcopia é o principal método usado para o rastreamento. A técnica consiste na utilização de líquidos e de um aparelho com sistema de lentes de aumento (colposcópio) que, ao entrarem em contato com a mucosa que reveste a vagina, evidenciam manchas que indicam lesões pré-cancerosas. Embora a colposcopia seja utilizada na detecção do câncer de vulva, a biópsia costuma ser o procedimento definitivo para identificar a presença de células cancerígenas no órgão. A técnica pode ser feita em ambiente ambulatorial e exige apenas anestesia local.