19/05/2023, 13:27
Cinema do CCBB Brasília recebe Retrospectiva Geraldo Sarno
O Centro Cultural Banco do Brasil – Brasília apresenta a Retrospectiva Geraldo Sarno que exibirá, integralmente, a filmografia do cineasta baiano Geraldo Sarno – uma das grandes referências do cinema brasileiro moderno –, recentemente falecido em decorrência de COVID-19.
A retrospectiva inédita, de 23 de maio a 11 de junho, exibirá 26 filmes (9 longas, 5 médias e 12 curtas-metragens). São documentários e ficções de um diretor combativo, perseguido pela ditadura militar, e cuja carreira se estendeu por mais de 5 décadas, sempre empenhado em registrar as diversas faces da cultura tradicional brasileira: a religiosidade popular; a herança cultural e espiritual afro-brasileira; a literatura de cordel; os santeiros; a memória do cangaço; o artesanato; as formas de cantoria tradicional. Os ingressos podem ser adquiridos R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Com curadoria de Ewerton Belico e Leonardo Amaral, a Retrospectiva Geraldo Sarno faz jus à importância histórica deste cineasta brasileiro cuja obra de impressionante consistência temática e notório engajamento político está há tempos longe dos olhos do grande público.
Geraldo Sarno (1938-2022) é conhecido também como integrante da Caravana Farkas, projeto coletivo de realização documental capitaneado entre o final dos anos 1960 e o começo dos anos 1970, pelo célebre fotógrafo Tomaz Farkas. Assim como outros diretores ligados à Caravana (como Sérgio Muniz ou Paulo Gil Soares), Sarno teve uma carreira longa e prolífica depois da Caravana, entre o documentário e a ficção, entre o cinema e a televisão.
Em Brasília, a retrospectiva contará com a apresentação curatorial (dia 23/05) e com dois bate-papos (dias 27/05 e 03/06 – ver programação), além do lançamento de um catálogo com grande acervo de escritos, fotografias e arquivos do próprio Sarno.
Muitos dos seus filmes foram pouco exibidos, o que torna a mostra mais contundente e necessária a fim de se estabelecer novos diálogos e novas análises sobre a obra do diretor e sobre o cinema brasileiro.
A filmografia de Geraldo Sarno comprova o enorme interesse do diretor pelas diversas faces da cultura brasileira: a religiosidade popular, a literatura de cordel, os santeiros, a memória do cangaço, o artesanato, as formas de cantoria tradicional. Sua obra transita por diversas frentes, nas variações entre um Brasil tradicional e um Brasil moderno.
Há em Geraldo Sarno um nítido interesse pela migração nordestina e pela herança sertaneja, que se espalha por inúmeros filmes, desde os migrantes abandonados na grande cidade, entregues à sua fé no clássico Viramundo (1965), ao político e empresário idealista encravado no meio do sertão pernambucano do longa de ficção Coronel Delmiro Gouveia (1977), passando pelo bumba-meu-boi de Dramática popular (1968); pela obra do escultor popular Mestre Vitalino, em Vitalino/Lampião (1969); as feiras populares nordestinas de Segunda-feira (1975).
Ainda em sua obra, existe ainda um fascínio pelas relações entre literatura, história e cinema, a exemplo de Semana de Arte Moderna (1972), O Picapau Amarelo (1973), adaptação da obra infanto-juvenil de Monteiro Lobato, de Casa Grande & Senzala (1978) e de Último Romance de Balzac; sobre o romance psicografado pelo médico e médium espírita, Waldo Vieira atribuído ao escritor francês Honoré de Balzac.
O encerramento da Mostra conta com o filme Sertânia, festejado pela crítica brasileira como um dos melhores de 2022, e que marca a retomada da experiência do cangaço e, talvez, seja a obra mais ousada de Sarno.