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25/06/2023, 18:14

Escolas de samba fecham desfiles e reforçam a diversidade da capital

A espera pelo toque da sirene que autoriza a entrada no sambódromo Marcelo Sena, no Eixo Cultural Ibero-americano, chegou ao fim para mais seis escolas de samba do Distrito Federal entre a noite de sábado (24/6) e a madrugada deste domingo (25). Além de cores, alegria, fantasias, interpretações e uma enxurrada de alegorias que encantaram o público brasiliense, as agremiações colocaram na avenida uma relevante amostra da diversidade cultural brasileira e, sobretudo, contribuíram para enobrecer ainda mais o samba na capital do país.

O evento começou ainda na parte da tarde, com as apresentações de Matuskela, o Bloco dos Raparigueiros, Os Criollos, e o tradicional grupo carioca Cacique de Ramos, que animou o palco montado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec). À noite, entraram na avenida três escolas do grupo de acesso e mais três do grupo especial.

Na fala de encerramento, a subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural, Sol Montes valorizou o trabalho de cada componente que brilhou nesses dois dias de desfiles, em especial as mulheres, já pensando em 2024. “Os desfiles das escolas de samba do DF voltaram e voltaram com tudo”, disse. “Foi lindo de ver, agora é trabalhar para fazer uma festa maior no próximo ano”, antecipou.

Grupo de acesso

Pelo grupo de acesso desfilaram a Acadêmicos do Riacho Fundo II, seguida pela Capela Imperial de Taguatinga e a Acadêmicos de Santa Maria. A primeira agremiação levou ao sambódromo um enredo com referência à relação Brasil-Portugal, o vinho e a cachaça. A escola de Taguatinga, uma das mais antigas do DF, por sua vez, apresentou letra em que exalta as belezas da cidade, que celebrou aniversário recentemente. Já a escola de Santa Maria homenageou o estado do Pará e toda sua expressão artística e diversidade.

Tomada pela emoção logo após deixar a avenida, a presidente da Capela Imperial de Taguatinga, Sueli Gaspar, mais conhecida como Lili,não economizou agradecimentos a cada integrante da agremiação. Ela lembrou das barreiras superadas, principalmente da falta de uma quadra para realizar os ensaios, mas enalteceu o apoio da comunidade de Taguatinga, que acolheu o projeto da escola que tenta retomar ao grupo de elite do samba brasiliense. 

“Não foi fácil fazer esse desfile ganhar forma. Temos o objetivo de retornar ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído, o grupo especial, e a partir disso fizemos um ótimo trabalho. Agora vamos esperar pela apuração e torcer para que o resultado seja positivo para a Capela Imperial”, afirmou.

Grupo Especial

Pouco antes da meia-noite, a Mocidade do Gama, primeira escola do grupo especial, entrou na avenida para animar o público com samba sobre a história de São Jorge, também chamado Jorge da Capadócia e venerado por cristãos e por religiões de matriz africana. Na sequência, desfilaram a Bola Preta de Sobradinho e a atual tricampeã do Carnaval do DF, a Acadêmicos da Asa Norte. 

A agremiação da cidade serrana embalou o sambódromo com o enredo “O jeito bola de ser — No bonde do Bola Preta você é o eterno folião”, exaltando elementos culturais da cidade, como o Boi de Seu Teodoro, enquanto a escola do Plano Piloto abordou a história de mulheres negras que exerceram protagonismo na história do Brasil, fazendo uma homenagem a personalidades como Elza Soares, Leci Brandão, Margareth Menezes e Marielle Franco. A figura da mulher brasileira que vive longe dos holofotes também foi abordada pela escola durante a apresentação no sambódromo.

O carnavalesco responsável pelo desfile da atual campeã, Robson Salazar, comemorou o retorno dos desfiles e mostrou confiança na conquista do quarto campeonato consecutivo da agremiação. “A história do nosso enredo tem início na ancestralidade e percorre uma trajetória até os dias atuais. Vamos mostrar a importância da mulher negra, que faz com que esse país seja diferente e com isso lutar para que o troféu permaneça na Asa Norte”, disse Robson antes do início do desfile.

O trabalho de cada escola foi conferido de perto não apenas pelo time de jurados, mas também por personalidades do universo do samba. O carnavalesco Milton Cunha foi novamente o mestre de cerimônias e comandou a transmissão pelo canal do YouTube Carnavalesco, compartilhando informações sobre as escolas.

O presidente da Federação Nacional do Samba (Fenasamba), Kaxitu Ricardo Campos, também acompanhou de perto a realização dos desfiles. Ele parabenizou a organização do evento e elogiou o projeto de reestruturação do carnaval brasiliense, por meio da Escola de Carnaval, iniciativa criada e fomentada pela Secec para capacitar os amantes da festa mais popular do país.

“O que acontece aqui, hoje, é um marco na história do samba. Brasília sempre teve um dos maiores e melhores carnavais do país e muita gente sentia falta de ver essa alegria, essa diversidade. Na federação, acompanhamos de perto a reestruturação para que essa festa pudesse acontecer e vejo que é uma estratégia que precisa ser partilhada com outras regiões do país. É histórico e importante para o segmento de escolas de samba no Brasil”, analisou Kaxitu.

Entre as cerca de 15 mil pessoas que acompanharam a segunda e última noite de desfiles, estava Mauro Jorge Chaves, presidente de uma agremiação caçula de Brasília, a Unidos do Jardim Botânico, criada em 2015 e que nunca desfilou oficialmente em um carnaval da cidade. Com o retorno das apresentações após quase uma década, o dirigente acredita no fortalecimento do samba brasiliense.

Mauro espera, também, pela próxima edição dos desfiles. A oportunidade vai marcar a estreia da escola no sambódromo do DF. “Já fizemos apresentações monumentais no Jardim Botânico, apesar de sermos uma organização caçula ainda. E esse retorno dos desfiles representa uma retomada importante para Brasília, mas é ainda mais relevante para nós, que podemos vislumbrar novos objetivos daqui para frente”, concluiu o dirigente.