23/09/2023, 21:01
Marca-passo: posso viajar, praticar esportes, passar por detectores, fazer exames?
Parece até cena de filme imaginar ter os batimentos do seu coração regulados por um dispositivo implantado no corpo. Entretanto, essa é uma realidade que já não é mais nenhuma novidade na medicina. Só para se ter ideia, apenas no Brasil, segundo dados do Censo Mundial de Marcapasso e Desfibriladores, já são mais de 300 mil pessoas que utilizam marcapasso no país e, a cada ano, cerca de 50 mil novos dispositivos são implantados.
E é partindo desses números elevados que a campanha do Dia do Portador de Marcapasso, uma iniciativa da ABEC/DECA – Associação Brasileira de Arritmia, Eletrofisiologia e Estimulação Cardíaca Artificial/Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), celebrado em 23 de setembro, chega para fortalecer e esclarecer dúvidas sobre a questão. Muitas pessoas devem se perguntar como fica a vida dos portadores de marcapasso para realizar coisas simples do dia a dia, como por exemplo, usar o celular, viajar de avião, secar o cabelo, passar em portas com detector de metais, entre outros.
Saiba o que é, quando é recomendado e como funciona o marcapasso
Infelizmente algumas pessoas sofrem com o ritmo cardíaco irregular ou lento, conhecido como bradicardia. Seja devido a uma doença congênita, efeitos colaterais de medicamento ou envelhecimento natural, o coração não consegue mais bombear suficientemente o sangue rico em oxigênio para o corpo, podendo gerar diversas complicações de saúde. Uma alternativa para esse problema é o implante de um marcapasso. O objetivo é restaurar a frequência cardíaca normal, aliviando os sintomas gerados pela bradicardia.
De acordo com o cardiologista intervencionista do ICTCor, Ernesto Osterne, o marcapasso monitora o coração continuamente e identifica batimentos irregulares, lentos ou interrompidos, enviando um estímulo elétrico ao coração e regularizando os batimentos. “Algumas pessoas sofrem com o ritmo cardíaco irregular ou lento, seja devido a uma doença congênita, efeitos colaterais de medicamento ou envelhecimento natural. Assim, o coração não consegue mais bombear suficientemente o sangue rico em oxigênio para o corpo, podendo gerar diversas complicações de saúde. Uma alternativa para esse problema é o implante de um marcapasso“, explica.
O pequeno dispositivo eletrônico serve para controlar o ritmo cardíaco. Ele possui um gerador, uma bateria interna e cabos eletrodos. Estes cabos são conectados ao coração e ligados ao marcapasso depois que o médico se certifica de que estão posicionados corretamente. O aparelho é implantado em uma espécie de “bolsa” sob a pele durante uma cirurgia considerada simples, que é feita com sedativo e anestesia local. É um procedimento tranquilo, que dura de uma a duas horas. Geralmente, o paciente pode ir para casa no dia seguinte e retomar as atividades habituais depois de 30 dias.
Após a cirurgia, pode-se observar o desaparecimento de sintomas como tonturas e falta de ar, causados pelo problema de ritmo cardíaco que diagnosticou a necessidade do implante. “Pode acontecer do paciente sentir pequenas dores no local do implante logo após o procedimento, mas elas diminuem e em pouco tempo acabam desaparecendo por completo“, afirma Ernesto.
O cardiologista explica ainda que, normalmente, o marcapasso é indicado quando a frequência cardíaca é menor que 40 batimentos por minuto, quando existem pausas longas e sintomáticas, em casos de alguns casos de insuficiência cardíaca ou arritmia grave, em paciente que sofre de alguma doença cardiovascular, como bloqueio atrioventricular avançado, hipersensibilidade do seio carotídeo e doença do nó sinusal, entre outras.
No caso das crianças, o dispositivo também pode ser indicado quando, ao nascer, a criança apresenta uma frequência cardíaca muito baixa. Geralmente, essa alteração é decorrente de uma cardiopatia congênita que interfere no sistema elétrico do coração, gerando um bloqueio entre o átrio e o ventrículo. Esse bloqueio faz com que os estímulos elétricos gerados no átrio não cheguem até o ventrículo, que é responsável pela função contrátil do coração. Então, o marcapasso é indicado pois consegue identificar esses estímulos e levá-los até o ventrículo, para que o coração desempenhe sua função.
Tipos de Marcapassos Cardíacos
- Marcapasso convencional: os chamados marcapassos cardíacos convencionais se dividem em unicamerais ou bicamerais. Os marcapassos unicamerais são compostos pelo gerador de pulsos elétricos e por um eletrodo (fio) que vai até uma câmera do coração – em geral, o ventrículo direito e, mais raramente, o átrio direito. Na maioria das vezes, estes dispositivos são indicados para pessoas com baixa frequência cardíaca e sem atividade contrátil do átrio (fibrilação atrial). Os marcapassos bicamerais são compostos pelo gerador e dois eletrodos, sendo um colocado no átrio direito e o outro no ventrículo direito. São os marcapassos cardíacos de uso mais comum, indicados no tratamento da doença do Nó Sinusal e na maioria dos portadores de bloqueios cardíacos.
- Ressincronizadores cardíacos: estes marcapassos possuem três eletrodos, sendo um colocado no átrio direito, outro no ventrículo direito e um terceiro em uma veia cardíaca que estimula o ventrículo esquerdo. Além de exercerem a função básica dos marcapassos convencionais, os ressincronizadores restabelecem o sincronismo entre os batimentos do lado direito e do lado esquerdo do coração, melhorando seu déficit contrátil. Os ressincronizadores cardíacos têm sua maior indicação para as pessoas que possuem um determinado tipo de bloqueio no coração, chamado de bloqueio do ramo esquerdo. Geralmente, tais pessoas apresentam um importante comprometimento da contratilidade do músculo cardíaco, causado por uma doença do músculo, chamada de miocardiopatia. A associação com este bloqueio leva a uma dessincronização entre o batimento do lado direito e o batimento do lado esquerdo do coração, enfraquecendo ainda mais a potência de contração do coração. Esta insuficiência cardíaca afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes e os ressincronizadores proporcionam expressiva melhora dos sintomas, restabelecendo a qualidade de vida e a longevidade.
- Cardiodesfibriladores Implantáveis – Desfibriladores: os cardiodesfibriladores são um tipo de marcapasso que, além das funções dos marcapassos convencionais, possuem um circuito de detecção e tratamento de arritmias potencialmente fatais. São indicados para os casos de fibrilação ventricular, uma arritmia cardíaca que pode levar à morte súbita. Os cardiodesfibriladores possuem uma bateria de dimensões maiores, pois tem a capacidade, de quando necessário, dar um choque de alta potência para reversão da parada cardíaca, prevenindo a morte súbita. Os ressincronizadores podem estar associados aos cardiodesfibriladores em um mesmo circuito, para tratamento de doenças associadas. É o caso, por exemplo, de pacientes que possuem dissincronismo causado por uma doença de base com alto risco de morte súbita. Assim, os dois aparelhos se unem em um único gerador com 3 eletrodos, chamado de desfibrilador+ressincronizador cardíaco.
Implantei o marcapasso. Como fica minha vida a partir de agora?
Os cuidados pós-operatórios específicos variam, dependendo do caso, e serão orientados pelo médico após a cirurgia, mas existem recomendações que devem ser seguidas. Além disso, é essencial ler com atenção o manual do marcapasso. Nele é possível obter informações referentes à maioria das dúvidas que costumam afligir os pacientes. Confira algumas delas:
- Telefones celulares podem ser usados, mas têm que ser mantidos a pelo menos 15 cm de distância do local do implante, sendo usado no ouvido que fica do lado contrário do marcapasso;
- Sistemas detectores de metais, como de aeroportos e portas giratórias de bancos, devem ser evitados. É importante andar sempre com o documento de identificação, que atesta ser portador marcapasso e que facilite a sua passagem;
- Exercícios físicos e condução de veículos são permitidos, porém é sempre bom consultar o médico;
- Dentro do possível, é bom evitar dormir do lado do marcapasso implantado, principalmente durante os primeiros dez dias;
- Colchões magnéticos devem ser evitados, pois podem acelerar o desgaste da bateria do marcapasso. Assim, acabam por antecipar a necessidade de sua troca.