27/05/2024, 15:20
Câncer e maternidade: tratamento oncológico não é impeditivo para mulheres que desejam ter filhos
Ser diagnosticada com câncer de mama pode ser uma notícia difícil, especialmente para as mulheres que desejam ter filhos. As dúvidas e preocupações sobre o impacto da doença na fertilidade, na gravidez e na amamentação são frequentes. Independentemente do tipo de tumor ou de onde ele está localizado, a oncologista da Oncoclínicas Brasília, Elisa Porto, afirma que ter tido câncer não precisa ser o fim da linha quando falamos em gestação.
“Como resultado das melhorias no prognóstico do câncer de mama nas últimas décadas, o desejo de gestar tem se tornado uma consideração cada vez mais relevante para as mulheres que concluíram o tratamento ou que passaram pela fase mais intensa da terapia do tumor. No entanto, muitas mulheres diagnosticadas com a neoplasia ainda enfrentam várias barreiras para conceber um filho com segurança e sucesso. Elas precisam lidar com uma série de preocupações relacionadas a potenciais complicações gestacionais e ao risco de recidiva da doença durante e após a gravidez. É bastante comum o medo de que os altos níveis hormonais durante a gravidez e/ou a interrupção temporária da terapia endócrina possam ser prejudiciais ao prognóstico. Tudo isso explica as menores taxas de gravidez em comparação à população geral”, explica a médica.
Ainda de acordo com a oncologista, vários estudos evidenciam que é segura a gravidez em mulheres com história de câncer de mama e não há aumento do risco de recorrência.
“Pacientes com neoplasia, principalmente aquelas expostas à quimioterapia prévia, apresentam maior chance de terem a cesariana como via de parto, maior risco de terem filhos com baixo peso ao nascer, pequenos para a idade gestacional e parto prematuro em comparação com mulheres da população geral. No entanto, não foram observados sinais alarmantes em resultados reprodutivos, incluindo nenhum risco significativamente aumentado de anomalias congênitas. A gravidez após o câncer de mama não é associada a qualquer efeito prognóstico prejudicial, independentemente das características do tumor, tratamento prévio, momento da gestação após o câncer de mama e presença de mutação genética. Além disso, os estudos são consistentes em demonstrar que o grupo de gestantes teve melhor prognóstico na sobrevida global do que o grupo de não gestantes”, ressalta.
Estudo revela bons resultados para mulheres com câncer de mama que pretendem engravidar
Estudo divulgado pelo New England Journal of Medicine, uma das principais publicações da área médica do mundo, o POSITIVE trial, evidenciou que mulheres com câncer de mama inicial que interromperam seu tratamento anti-hormonal para engravidar não apresentaram maior risco de recidiva. A pesquisa foi feita com pacientes de 42 anos ou menos, em estadios I, II e III da doença e mostrou que é possível interromper a endocrinoterapia após uso entre 18 e 30 meses, liberando as mulheres mais cedo para a gestação. Elisa Porto afirma que estas descobertas fornecem informações fundamentais para respaldar o aconselhamento sobre a fertilidade de quem enfrenta a doença, orientando-as na tomada de decisões sobre o futuro familiar.
“Nesse sentido, as diretrizes atuais não desencorajam a gravidez após a conclusão do tratamento para câncer de mama e um período adequado de acompanhamento. Portanto, o desejo das pacientes de gestar deve ser considerado um componente crucial do seu plano de cuidados, e, idealmente, a abordagem desse assunto deve ser iniciada logo ao diagnóstico, com orientações e esclarecimentos sobre as técnicas disponíveis para a preservação de fertilidade”, reforça a especialista.
Impacto na fertilidade
O diagnóstico de câncer de mama pode trazer consigo diversas preocupações, e entre elas, a fertilidade se destaca como uma questão comum para as mulheres. Com os avanços na medicina e o acompanhamento adequado, muitas mulheres que venceram a batalha contra a doença podem realizar o sonho de serem mães.
“Há uma necessidade urgente de aconselhamento sobre oncofertilidade no momento do diagnóstico. Ainda existe uma grande proporção de pacientes que enfrentam problemas por não seguirem estratégias de preservação da fertilidade, provavelmente devido à falta de aconselhamento adequado no momento do diagnóstico. Em alguns casos, não é possível evitar os danos que os tratamentos contra o câncer podem causar; portanto, pesquisas em técnicas de preservação da fertilidade vêm se expandindo rapidamente para permitir que pacientes que tiveram diagnóstico prévio de câncer possam ter filhos biológicos”, alerta a médica.
Atualmente, as estratégias disponíveis para preservação de fertilidade para mulheres englobam a criopreservação de oócitos e embriões, criopreservação de tecido ovariano e transposição ovariana. “O melhor procedimento deve ser escolhido, dentre os disponíveis, a depender de características e desejo da paciente. A criopreservação de embriões é considerada uma prática padrão e é comumente realizada”, explica a oncologista.
Amamentação após o câncer de mama
Algumas mulheres podem não conseguir amamentar após o tratamento do câncer de mama, dependendo da cirurgia realizada e se fizeram ou não radioterapia. Isto pode incluir a redução da produção de leite nessa mama, bem como alterações estruturais que podem tornar o momento doloroso ou dificultar a pega do bebê na mamada. É importante ressaltar que a amamentação após o tratamento não aumenta o risco de recorrência da doença, mas também não é aconselhada se a paciente estiver em terapia endócrina, pois alguns medicamentos podem passar para o leite materno e afetar o bebê.