24/06/2021, 09:36
A insuportável fofura do ser
por André Cunha
Baseada nas revistas em quadrinhos de Jeff Lemire, desenvolvida por Jim Mickle e em cartaz, com grande audiência, na Netflix, a série Sweet Tooth mistura diversos elementos contemporâneos: uma avassaladora pandemia, chamada de O Flagelo, que dizimou boa parte da humanidade; o surgimento misterioso de bebês híbridos, meio homo sapiens e meio animais selvagens, que pode ou não ter relação com a eclosão do vírus; uma ditadura comandada por um sinistro general não exatamente entusiasta dos direitos humanos; um cenário de caos, anarquia e intolerância advindo do colapso da civilização; e assim por diante.
Paralelo a essa preocupante realidade, o espectador acompanha as aventuras de Gus (Christian Covery), um menino com chifres e orelhas de cervo que vive isolado com o pai numa floresta até que, depois de uma fatalidade, lança-se no vasto, perigoso e hostil mundo em colapso. Enquanto procura pela mãe, conhece dois companheiros que vão acompanhá-lo ao longo da jornada: o Grandão (Nonso Anozie) e a Ursa (Stefania LaVie Owen).
Nesse ponto, a série abre mão de qualquer resquício de originalidade pra focar num tema pra lá de batido: a formação, a despeito das adversidades, de uma família. A premissa apocalíptica perde força e se transforma num mero pano de fundo pra mostrar como são belos, doces e pungentes os laços de lealdade forjados entre personagens tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão próximos.
Escoltado por essa dupla improvável, o inocente chifrudinho vai estrelar cenas de uma fofura insuportável.
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