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07/05/2020, 07:49

A última tentação de Sorrentino

por André Cunha

No início do sétimo episódio da série The New Pope (2020), continuação de The Young Pope (2016), o papa Pius XII, interpretado por Jude Law, sai do mar com uma exígua sunga branca e vai ao encontro de uma italiana coberta apenas por um biquíni igualmente minúsculo e um cordão de onde pende crucifixo. Ao aproximar-se dela com um olhar lascivo, estende as mãos na direção dos seios cinematográficos e desatarraxa o cilindro do crucifixo, em cujo interior encontra um cigarro. Ato contínuo a beldade acende o pestilento objeto cênico, que o Santíssimo Padre fuma com a expressão mais canalha do mundo.

Uma droga composta por milhares de substâncias tóxicas no interior do mais sacrossanto símbolo católico: eis aí um bom exemplo de como Sorrentino conduz a série, uma mistura tão exuberante de sagrado e profano, passado e presente, clássico e moderno, tradição e inovação, que não seria exagero descrevê-lo como um verdadeiro mestre do estilo barroco ou do que poderíamos chamar, grosso modo, de neo-surrealismo italiano.

De forma que não configura surpresa alguma o fato de o protagonista da cena descrita acima se encontrar, no desenrolar da nova temporada, em coma profundo. Arranjos pouco republicanos no Colégio dos Cardeais levam à eleição de um papa desastroso – sem demora assassinado – e depois de um papa supostamente conciliador, João Paulo III (John Malkovich).

Em meio a uma eminente guerra santa provocada pelo terrorismo islâmico, reivindicações de freiras picadas pela mosca do feminismo, devotos fanáticos, supostos milagres e as mais diversas conspirações nos bastidores do Vaticano, sobremaneira as urdidas pelo Secretário de Estado Angelo Voiello (o excelente Silvio Orlando), caberá a ele pilotar a instituição mais antiga do mundo. É uma viagem estranha e bela. Apertem os cintos.

 

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