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23/04/2020, 07:09

Aquém do princípio do prazer

por André Cunha

Disponível na plataforma Netflix, a série austro-alemã Freud, criada por Marin Kren, Benjamin Hessler e Stephan Bruner e estrelada por Robert Finster, adota uma estratégia ousada: explorar a juventude do ilustre psicanalista usando como argamassa dramática os mais inconfessáveis delírios do inconsciente.

Ousada demais, diga-se. Tomando liberdades ficcionais extremas, chegando a ser comparada, pela maneira insólita como trata a personagem que a inspira, ao filme Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (2012), mistura investigação policial, crimes sanguinolentos, sessões de espiritismo, hipnose, fantasias suicidas e incestuosas, surtos psicóticos, ocultismo e conspirações palacianas.  

O resultado é um show de horrores. Assisti-la é uma experiência exasperante na qual o espectador vê-se submetido a uma quantidade industrial de pessoas vomitando, cadáveres cantando ópera, falshbacks descontextualizados de massacres perpetrados em guerras, cenas de sexo repulsivas e repletas de violência gráfica, consumo gargantuesco de cocaína, vítimas evisceradas, genitálias violadas, membros decepados e mais um carrilhão de coisas nojentas. 

Em que pese a ousadia dos realizadores, corajosos a ponto de produzir um entretenimento desse naipe, o saldo final revela-se no mínimo decepcionante. Não tanto pelo exagero estético e pela excentricidade da trama, mas por desperdiçar a oportunidade de explorar uma personalidade complexa.

De forma que Freud consegue a façanha de decepcionar quem nada conhece de psicanálise ao mesmo tempo em que decepciona quem é versado no tema.

Se o objetivo era despertar a curiosidade mórbida das pessoas, falhou feio. Há um elevado índice de desistência após os primeiros episódios e as críticas tem sido devastadoras.

 

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