07/02/2019, 10:53
Bom de papo e bom de copo
por André Cunha
O que é exatamente Maior que o Mundo, o novo livro de Reinaldo Moraes publicado pela Alfaguara? Um romance pós-moderno desconexo? Um fluxo de consciência narrativo? Uma logorreia de trocadilhos, preconceitos e delírios? Vai saber. O intrépido autor do irregular Pornopopéia (Objetiva) lançou no fim de 2018 esse livro indecifrável, hilário e grotesco que pode fazer o seu verão 2019 ficar um pouco menos chato.
Maior que o Mundo, também irregular e desregulado, “narra” as andanças do escritor cinquentão Cássio Adalberto, ou Kabeto, pela selva de pedra paulistana durante um fim de semana em 2013 enquanto rolam as famosas Jornadas de Junho (manifestações contra os 20 centavos de aumento na passagem de ônibus). Digo narra entre aspas porque o estilo narrativo se mistura com o injuntivo, o descritivo, o argumentativo e o especulativo de maneira caleidoscópica. Pontos de vista se confundem. Memórias e suposições se intercalam. Longas digressões ontológicas se encerram de forma abrupta pra dar lugar às mais chulas piadas pornográficas. Kabeto vomita suas impressões sobre tudo e todos num gravador analógico que leva à tiracolo. Seu método, de inspiração psicanalítica, é a livre associação de ideias: falar o que vier à cabeça. Na página 10, quando sente que começou a pegar o jeito, o narrador exulta: “Eita. Acho que tô engrenando aqui. Manhê! Olha pra mim! Tô livre-associando! Sem as mãos!”
Mas sobre o que tanto livre-associa este verborrágico senhor ao longo de quase quinhentas páginas? Aviso aos navegantes que não conhecem a obra do Reinaldão: ele não doura a pílula, não pede desculpas por ser quem é, não evita temas controversos, pelo contrário, e não tem “nojinho” de coisa alguma. Kabeto/Reinaldo é o tipo de sujeito ideal pra se bater um papo descontraído no boteco (um papo desses nada-com-nada dura quase cem páginas no livro). O leitor/interlocutor se diverte, se horroriza e se entretém com “o melhor e pior dos brasileiros”, na avaliação de Nelson Mota. Se você é do tipo que se ofende fácil, passe longe! Se não, morra de rir com as diabruras e desventuras desse velho safado.
Tags: literatura, Reinaldo Moraes