Menu

20/08/2022, 22:24

Camada ocular de pele de porcos restaura visão de cegos

Uma pesquisa da Universidade de Linköping, na Suécia, desenvolveu uma camada ocular feita de pele de porco. O biomaterial é feito a partir do colágeno da pele de porcos e foi testada em implantes de córnea por cirurgiões no Irã e na Índia, em vinte voluntários, sendo 14 deles cegos. O resultado do estudo-piloto foi publicado recentemente na revista Nature Biotechnology, onde se constatou que o implante é seguro e restaurou a visão de todos os voluntários.

De acordo com a médica oftalmologista do CBV-Hospital de olhos Maria Regina Chalita esse método pode fazer uma grande diferença em locais onde há uma longa fila de espera para esse tipo de transplante. “Pensando no transplante de córnea, o principal fator limitante é a dificuldade em se conseguir o tecido corneano em vários lugares do mundo. Existem lugares como Estados Unidos, Europa, onde nós praticamente não temos fila para transplante de córnea, temos uma oferta de córnea maior do que a demanda necessária. Porém, temos outros lugares como África, Ásia e Oriente Médio, onde há uma carência muito grande de córneas, os pacientes demoram anos para conseguir uma doação para poder realizar o transplante de córnea. Aqui no Brasil, isso varia um pouco entre diferentes regiões. No Distrito Federal, a média de espera que nós temos para um transplante de córnea, quando o paciente entra na fila, é em torno de seis a oito meses. Mas existem alguns estados do Brasil, onde praticamente não se tem fila de espera”, relata.  

O método inovador é feito por meio de uma pequena incisão para inserir o implante na córnea existente, sendo um procedimento menos invasivo, no qual dispensa a remoção do tecido do paciente. Segundo Chalita, antes da disponibilização do biomaterial em larga escala, é necessária uma análise mais abrangente dessa tecnologia. “Ainda é necessário mais tempo para avaliar e saber a meia vida ou o tempo de duração desse enxerto, dessa córnea artificial. É preciso saber se ela dura mais tempo do que uma córnea normal, uma córnea humana doada, e também com relação à rejeição. Nós sabemos que quando há uma doação de córnea humana, esse paciente tem uma chance de ter uma rejeição de córnea, por ser um tecido que não faz parte do organismo dele. Resta saber se nessas córneas artificiais, nós vamos diminuir mais ainda a chance de rejeição. Caso isso ocorra, será um fator muito promissor e muito importante na utilização de córneas artificiais para pacientes que necessitam do transplante.”

Uma das principais indicações de transplante é o ceratocone. A médica explica que o ceratocone é uma doença ectásica da córnea, onde a córnea começa a afinar e a ter um abaulamento, gerando um astigmatismo irregular e baixa de visão. Segundo a especialista, os tratamentos para ceratocone podem ser clínicos, mas em casos muito avançados, há a indicação de transplante. “A gente começa usando óculos. Quando o paciente não consegue mais usar óculos, a gente passa para lentes de contato. Alguns casos específicos de ceratocone são usados lentes de contato rígidas. Quando a visão não melhora mais com lente de contato, pode  ainda tentar os anéis intracorneanos, que são implantes feitos dentro da córnea para diminuir a curvatura do ceratocone. E só realmente em casos muito avançados, onde eu não consigo mais adaptar lente de contato ou colocar o anel intracorneano, que a gente vai indicar o transplante de córnea”, explica.