–  Dona Zuleica! O grupo lá da igreja tá na maior alegria porque o tal Milei ganhou.
– Tem muito bolsonarista, né?
– Sim! Foi dureza na época das eleições. Quase saí várias vezes.
– É! Difícil aturar tanta truculência e fake news.
– Mas, neste caso, não é mentira…
– Mais ou menos. Não é mentira que o bolsohermano ganhou…
– Não.
– Mas, foi muito mais apesar do coiso do que graças a ele.
– Você acha? Eles não foram pra lá fazer campanha?
– Sim! E quando isso aconteceu o Milei caiu nas pesquisas. Os argentinos sabem o que aconteceu aqui na pandemia.
– Ah!
– De qualquer modo, é preocupante. Mais um país sob o poder da extrema direita e ainda é bem provável que o Trump se reeleja lá nos States…
– Eles que se entendam lá com seus malucos. Pelo menos, aqui, nos livramos disso.
– Não é tão simples, Helena! Lula também não está conseguindo fazer um grande governo. Emparedado pelo centrão e atacado pela imprensa e pelo gabinete do ódio…
– Uai!? Não acabou?
– Perdeu força sem os aportes do Planalto, mas ainda tem as verbas de gabinete dos parlamentares ligados ao bolsonarismo.
– E pode usar esse dinheiro pra isso?
– Lançam como custos de comunicação…
– Gente! E porque os da esquerda não fazem o mesmo?
– A esquerda não sabe fazer isso. É uma comunicação engessada, protocolar, acadêmica e desinteressante. É muito mais honesta, mas pouco atraente.
– Tendi… 
– Pois é. E se os países com quem nos relacionamos se colocam como adversários ideológicos, pode dificultar ainda mais o sucesso deste terceiro mandato. – Ai! Tomara que não.
– Mas eu vi também alguns memes bem engraçados criticando a vitória do El Loco.
– É? Conta!
– Sim! Tinha um dizendo que os argentinos rivalizam tanto conosco que querem superar até a nossa maior burrice.
– Boa!
– Tem um outro dizendo que o Milei vai combater o comunismo vendendo estatais e que a China, que eles dizem ser comunista, vai comprar todas elas.
– E compensa?
– Claro! Negócio da China comprar estatais a preço de banana desses governos liberais e explorar o povo oferecendo serviços essenciais e, quase sempre, sem concorrência. Lembra das refinarias do nordeste, vendidas para os árabes? Os estados atendidos por elas não baixaram o preço do combustível como aconteceu no resto do país.
– Coitados! Se a economia já ia mal…
– Sim! Tem mais um agravante: lá existem muito mais programas assistenciais que aqui e é o que está mantendo a pobreza sob controle. Mas, como todo anarcocapitalista,  ele prometeu acabar com isso, reduzindo o tamanho do estado.
– Gente! E o povo ainda votou nele!?
– Pois é. Desespero. As coisas foram mal nos governos de direita e nos de esquerda que se sucederam desde o século passado. Resolveram apostar no diferente.
– É… Lembro que você falou. Foi igual aqui. Estavam tão cansados de gripe, que escolheram um câncer.
– Exato. E por falar em piada…
– Isso é piada?
– Meio mórbida, mas é.
– Não achei muita graça, não.
– Mas, desta, você vai achar. Lembra que falei que ele se aconselha com o cachorro morto?
– Lembro. 
– Pois é. Parece que o cachorro já definiu o novo plano de governo.
– E qual é?
– Cheirar o rabo de todo mundo.