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25/03/2021, 09:20

CSI – Folclore

Há milhões de formas pelas quais é possível abordar o rico folclore brasileiro. A série Cidade Invisível, criada por Carlos Saldanha e disponível no Netflix, no entanto, escolheu a mais previsível de todas: uma narrativa policial.

Aliás, a plataforma tem um fetiche incurável por esse tipo de formato. Basta navegar pelo catálogo pra conferir que há incontáveis filmes e séries e teimam em misturar investigações policiais com os mais diversos assuntos, de literatura à mediunidade, passando por conflitos familiares, misticismo, ficção científica e muitos outros.

Em Cidade Invisível, um boto-rosa é achado numa praia, dando início a uma trama rocambolesca que envolve seres do folclore nacional como a cuca, o saci, o curupira e a sereia Iara. Tais seres aparecem com uma roupagem modernosa, numa pegada meio Neil Gaiman (entidades sobrenaturais estão entre nós). Destaque pra sempre adorável Alessandra Negrini, que faz uma cuca com ares de feiticeira riporonga.

Os clichês estão todos lá: o luto do protagonista (Marco Pigosi), que perdeu a esposa de forma trágica; o delegado cheio de segundas intenções que teima em sabotar a investigação; uma construtora malvada cujo objetivo é derrubar uma floresta pra erguer um resort de luxo; um fortão com cara de mau, segurança de um bar suspeito, que vai antagonizar o mocinho e ameaçar enchê-lo de porrada; traumas do passado que aparecem em forma de flashbacks; segredos revelados sobre uma morte misteriosa ocorrida num manicômio; e assim por diante.

A sensação é a de estar vendo a mesma série repetidas vezes, com pequenas variações quanto ao cenário e aos personagens. O que é uma pena, pois dessa forma perderam a oportunidade de produzir um conteúdo original baseado num tema instigante e tipicamente brasileiro.

Imagina um terrorzão com uma cuca de fato assustadora que pega crianças quando o pai vai pra roça e a mãe vai trabalhar. Outra coisa, né?

 

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