17/02/2022, 21:13
Espetáculo Pedra(p)Arida
A violência física e psicológica – gaslighting, a dor, os amores e desamores, sabores e dissabores, a objetificação e a opressão contra as mulheres são temas expostos em cena de maneira visceral e reflexiva. No palco, uma mulher (Camila Guerra) dá vida a vários contextos de opressão ao sexo feminino e celebra a existência do gênero destacando a ancestralidade e as lutas que permeiam o “ser mulher” neste mundo.
Inspirada no livro Syngué Sabour, do escritor franco-afegão Atiq Rahimi, e no filme intitulado em português A Pedra da Paciência, também dirigido pelo autor, a atriz brasiliense Camila Guerra resolveu, em 2017, pegar como mote essas obras para estudar a fundo o universo feminino, suas nuances, seus medos, suas glórias, ânsias, repressões.
O resultado, que contou com intensos meses de trabalho e reflexões em parceria com o diretor e coreógrafo brasiliense Édi Oliveira e com a dramaturga Ana Flávia Garcia, será apresentado, agora, na peça de dança-teatro intitulada Pedra(p)Arida. O espetáculo terá estreia presencial no dia 18 de março, sexta-feira (somente para convidados), no Teatro Galpão do Espaço Cultural Renato Russo (508 sul). Nos dias 19 e 20 do mês, sábado e domingo, será aberto ao público no local. Sessões sempre às 20h. Ingressos: R$ 10 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 18 anos. Informações: Instagram: @pedraparida.
No filme A Pedra da Paciência, passado no Afeganistão destruído pela guerra, uma mulher conta seus sofrimentos, sonhos, desejos e segredos para seu marido, um herói de guerra que está em coma. Com esse desabafo, ela tenta encontrar um caminho para recomeçar a vida.
Tendo como mote inicial o longa, Pedra(p)Arida ganhou várias dimensões e profundidades que fizeram a atriz e equipe refletirem sobre as dores, repressões ao gênero feminino desde sua existência.
“O filme me comoveu muito. Foi o ponto de partida. Mas, nossa peça não é uma réplica do filme. Foram muitos estudos e reflexões no intento de não cairmos no clichê de uma mulher de uma determinada cultura julgar a alteridade exposta em outras culturas. Pesquisamos muito sobre o Afeganistão. Também discutimos a condição feminina no Brasil. O intuito é deflagrar questões latentes, pois toda mulher no mundo em algum nível já foi violada. E que nossa emancipação real passa por ‘tirar esses véus’ de diversas situações nada confortáveis que a sociedade patriarcal impõe há séculos”, declara a atriz Camila Guerra.
No palco, o público poderá presenciar estes recortes reflexivos e poéticos, que colocam em evidência essa mulher oprimida/objetificada cheia de sonhos e desejos de se libertar. Em cena, os objetos se ressignificam constantemente, de modo a sugerirem metáforas, símbolos e imagens pungentes, duras e poéticas que fazem com que os desdobramentos temáticos desaguem uns nos outros.
“No processo colaborativo de criação da dramaturgia optamos por mixagens narrativas com interferências de mulheres históricas, emblemáticas, de geografias diferentes. Fizemos uma escolha coletiva de não fazer citações sobre a localização do espaço, dos territórios. O espetáculo deságua como os fluxos das águas em contraposição à aridez (pedra-terra)”, explica a dramaturga Ana Flávia Garcia.
E uma trilha sonora de ruídos marcantes promete impactar ao acompanhar a intérprete que dança, fala, se indigna e também silencia…. Cala!
“ O lugar de fala é delas. Então, tive todo o cuidado de ouvir e pensar em cada detalhe. Começamos este processo há seis meses, e fomos, por meio de improvisações, alinhando as percepções sobre o tema. É uma peça que, de fato, coloca uma faca, um punhal sem filtros nas questões que as mulheres vivem desde sua ancestralidade. Neste trabalho, tiramos mesmo o véu para promover a reflexão e o acolhimento”, pontua o diretor Édi Oliveira, que contou com a assistência de direção da atriz e coreógrafa Juliana Drummond.
Devido ao momento de pandemia, estamos com ingressos limitados. O evento exigirá o uso de máscara obrigatória, comprovação via cartão de vacinação na entrada e contará com álcool gel, distanciamento entre as cadeiras de modo a respeitar todos os protocolos para a prevenção ao COVID-19.