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26/11/2020, 17:02

Estudo revela que o Lipedema pode atingir 5 milhões de mulheres no Brasil

O estudo revelou que 94% das pacientes ouvidas relataram limitação
física e impacto psicossocial devido à doença, um tumor de gordura,
que provoca dor e deixa mulheres com pernas e braços grossos
desproporcionais, e joelhos sem contorno;

Cerca de 10% das mulheres em todo o mundo têm a doença e a grande
maioria não sabe; Isto se deve à falta de informação e conhecimento da
classe médica, que faz o diagnóstico errado; A doença foi confundida
com obesidade em 75% das pacientes ouvidas no estudo;

O Lipedema é uma doença progressiva causada por acúmulo de gordura em
regiões específicas do corpo como braços, pernas e quadris, que
provoca sofrimento físico e psicológico e atinge cerca de 10% das
mulheres em todo o mundo, segundo dados da Sociedade Espanhola de
Medicina Estética (SEME). Foi diagnosticada pela primeira em 1960, mas
começou a ter evidência nos últimos três anos. É confundida muitas
vezes com obesidade ou alterações linfáticas, por falta de
conhecimento e de informação da classe médica, e atinge quase que
exclusivamente o público feminino, pois está associado a um padrão
hormonal feminino. Um estudo brasileiro recente que traçou este ano o
perfil epidemiológico de pacientes com Lipedema revelou que apenas 9%
dos médicos consultados estavam aptos a fazer o diagnóstico da doença
que pode acometer cerca de 5 milhões de mulheres no Brasil.

O estudo observacional da doença analisou 106 mulheres, utilizando
como norte um questionário aplicado às pacientes, com questões cujo
objetivo foi analisar a trajetória terapêutica enfrentada por elas.

A doença, que deverá ser incluída no próximo Código Internacional de
Doenças (CID 11) apenas em 2022 – ainda é mal diagnosticada não só no
Brasil, mas mundialmente. Ainda segundo o estudo brasileiro, apesar de
grande parte das pacientes apresentarem um peso normal, o tumor de
gordura chamado Lipedema foi confundido com obesidade em 75% das
pacientes.

Como identificar – As principais características do Lipedema, que
possui quatro estágios (foto abaixo), são: dores frequentes nas
regiões das pernas, quadril, braços e antebraços, que ficam mais
grossos e desproporcionais em comparação com o restante do corpo, no
tornozelo parece que há um “garrote” e os joelhos perdem o contorno. A
mulher pode apresentar hematomas (ficar roxa) por qualquer movimento
mais brusco. Isto acontece porque a doença provoca reação inflamatória
em células de gordura nestas regiões.

Se eu tenho canela grossa, tenho Lipedema? – É preciso identificar se
a mulher tem algumas das características da doença para gerar pontos
de atenção. Se há perda de mobilidade, aumento progressivo dessa
gordura com o passar dos anos, se há dor em algumas das regiões-foco e
dificuldades em eliminar a gordura mesmo com dieta e atividade física,
é recomendado procurar ajuda médica, pois pode ser Lipedema. Um dos
exames que facilitam o diagnóstico é a ressonância magnética, em que é
possível observar o acúmulo de gordura ao redor dos músculos. O estudo
revelou que 94% das pacientes ouvidas relataram limitação física e
impacto psicossocial devido à doença.

Mais de cinco mil pessoas por mês procuram por Lipedema no Google. No
Brasil, há poucos médicos especialistas no tratamento da doença

O médico cirurgião pós-graduado pela Faculdade de Medicina da USP com
20 anos de experiência, artigos publicados internacionalmente e
capítulos de livros sobre o Lipedema, dr. Fábio Kamamoto é um dos
poucos especialistas no assunto em todo o Brasil. Lidera a equipe
pioneira no tratamento cirúrgico do Lipedema no país, com mais de 70
pacientes operados nos últimos seis anos, e está desenvolvendo um dos
primeiros estudos sobre a doença para identificar o perfil das
brasileiras com Lipedema. “Muitas destas pacientes relatam o início
dos sintomas após a menstruação, uso de anticoncepcionais, gravidez e
menopausa, momentos em que existem grandes mudanças hormonais”,
comenta.

Segundo o estudo brasileiro, 63% das pacientes revelam histórico
familiar da doença, algumas vezes acometendo três gerações: avó, mãe e
a paciente, evidenciando a tese de que a doença pode ser genética. O
Lipedema não é fatal, mas atrapalha a qualidade de vida da mulher de
tal forma, que pode desencadear distúrbios como depressão, obesidade,
perda de mobilidade e redução de auto estima.

Tipos de tratamento – Há dois tipos de tratamento para o Lipedema, o
clínico e o cirúrgico. O clínico é composto por dieta
anti-inflamatória (legumes, carnes, sem sódio e glúten ou bebidas
alcóolicas); uso de plataforma vibratória, que diminui o inchaço nas
regiões; drenagem linfática para tirar o excesso de líquido; e, por
fim, a técnica de taping, aplicada por um fisioterapeuta para melhorar
o desconforto. Estas ações amenizam os sintomas, mas não resolvem o
problema da gordura nas regiões dos braços, pernas e quadril, pois não
extrai as células doentes. Já o cirúrgico é feito com Lipoaspiração e
é definitiva, uma vez que é removida esta gordura não volta mais, pois
não há multiplicação dessas células. “É possível remover por meio de
Lipoaspiração até 7% do peso corpóreo. Ou seja, um paciente de 100
quilos poderia remover até 7 litros de gordura”, finaliza.

Centro especializado em Lipedema será criado por um dos médicos
pioneiros no tratamento da doença no Brasil para compartilhar conteúdo
técnico e de credibilidade

Para o dr. Kamamoto – que está preparando o lançamento de uma clínica
especializada no Lipedema até o final deste ano para compartilhar
conhecimento técnico de qualidade sobre a doença em parceria com
diferentes especialistas – antes de tratar o Lipedema, é importante
que a mulher melhore sua qualidade de vida, por meio de atividades
físicas regulares, mude hábitos que podem ser nocivos como bebidas
alcóolicas, por exemplo, ter uma perspectiva positiva da vida e uma
boa alimentação.

Associação criada por mulheres que sofrem com a doença lutam para que
o Lipedema seja reconhecido pela classe médica e para que haja
tratamento gratuito no SUS

A ABRALI – Associação Brasileira de Pacientes com Lipedema – foi
criada em outubro de 2019 por um grupo de mulheres portadoras da
doença. Voltada para a descoberta e divulgação de tratamentos, hoje, a
Associação, que hoje reúne mais de 300 mulheres, luta não só para que
a doença seja reconhecida pela classe médica, mas em prol de uma causa
maior: para que haja tratamento gratuito do Lipedema no SUS e nos
convênios médicos. Por ser ainda desconhecida e mal diagnosticada, as
mulheres que sofrem com a doença não têm a quem recorrer. A
associação, juntamente com o esforço da equipe pioneira do dr.
Kamamoto, estão batalhando pela criação de um Projeto de Lei para que
isto aconteça.