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23/08/2023, 21:46

Fronteira Festival começa na próxima terça-feira (29) no Cine Brasília

A quinta edição do Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental ocupará o Cine Brasília por seis dias na próxima semana. O Fronteira vai exibir 47 filmes de 21 países entre os dias 29 de agosto e 3 de setembro. Todas as sessões têm entrada franca.  A abertura acontece na terça-feira (29) às 19 horas e conta com uma estreia internacional: o filme irlandês “Eu Vejo a Escuridão”, de Katherine Waugh e Fergus Daly. Este é o primeiro programa da principal mostra do evento, Cineastas na Fronteira, que vai exibir 40 filmes, entre curtas, médias e longas. 

O filme de abertura “Eu Vejo uma Escuridão” investiga a relação entre fotografia, cinema e ciência de um modo curioso e inventivo, falando também da história do planeta como hoje o conhecemos. “Filmado em Paris e também nos Estados Unidos (no MIT – Massachusetts Institute of Technology, no Vale da Morte na Califórnia e numa região de testes nucleares em Nevada), o longa-metragem mostra relatos e reflexões de diversos filósofos e escritores envolvidos com as chamadas “imagens técnicas” e suas contradições. A questão é: o cinema contribui com a destruição do mundo?”, provoca Marcela Borela, uma das diretoras do Fronteira. “O filme de abertura é um portal para tudo que vem adiante na programação do evento, discussão do cinema como possibilidade de continuação do mundo”, reitera a coordenadora.   

Para o encerramento, o Fronteira terá uma sessão especial no domingo (3) com “ANHELL 69”, do colombiano Theo Montoya, filme vencedor dos prêmios de melhor filme na categoria principal e no júri popular na última edição do Olhar de Cinema de Curitiba. O Fronteira conta também com um programa de filmes exclusivo do Centro-Oeste, este ano dedicado a realizadores do Distrito Federal. É a Mostra Cadmo e o Dragão, que vai exibir, no domingo (3), cinco realizações do DF. 

Liberdade criativa e Estreias mundiais

Nesta 5a edição do Fronteira Festival, os filmes versam sobre reparação de direitos, liberdade e conduzem o espectador a imaginar novas realidades. O festival apresenta quatro estreias mundiais: os brasileiros “Tudo que vi era o sol” (Leo Amaral, Pedro Maia e Ralph Antunes), “Rapacidade” (Julia de Simone e Ricardo Pretti), o canadense “Frog Moon” (Noé Rodriguez) e a pequena obra-prima do DF, “Paisagem em Chamas” (Silvino Mendonça). “Alegria programar esse filme pela primeira vez”, é o que diz Juliane Peixoto, curadora e diretora, que se emociona com o filme de Silvino Mendonça. “‘Paisagem Em Chamas’ convoca a memória da existência do lugar, do Cine Brasília e de todos os cinemas aparecidos e desaparecidos, num presente bifurcado. É emocionante como recusa o hábito de cair na armadilha da cafetinagem”.  O filme será exibido no domingo (3/9), às 17h, na Mostra Cadmo e Dragão, programa “Das nossas raízes”. 

Na ficção mineira “Tudo o que vi era o sol”, outra estreia mundial, o personagem interpretado por Gil Antunes, corporifica toda uma paisagem político-afetiva de uma memória proletária. O filme está na sessão de sábado (2/9), às 19 horas. “Em Frog Moon, o artista catalão radicado no Canadá Noé Rodriguez dá continuidade ao seu trabalho com a película propondo uma relação mítica com a natureza e a luz”, é o que explica Rafael Parrode, um dos programadores do Fronteira, também diretor do Festival. O curta pode ser visto também no sábado (2/9), às 17 horas. 

Já RAPACIDADE é o novo trabalho de Julia de Simone e Ricardo PRetti, feito ao longo de dez anos na zona portuária do Rio de Janeiro. “Este documentário experimental sobre o território em torno do Cais do Valongo no Rio de Janeiro escancara a ficção hegemônica capitalista na cidade maravilhosa – a cari-oca (casa de branco)”, elabora Marcela Borela. O filme será exibido na sexta (1/9), às 21h.

Cinema de Invenção, Políticas da Terra e 3D

O Fronteira estreia no Brasil novos trabalhos de artistas estabelecidos, como os cineastas argentinos Claudio Caldini e Pablo Mazzolo, o artista visual e cineasta britânico Ben Rivers, a animadora norte-americana Jodie Mack, a cineasta e ativista iraniana Bani Khoshnoud, a escritora e cineasta canadense Moyra Davey. O festival ainda conta com o trabalho do mestre brasileiro Júlio Bressane que exibe a “A longa viagem do ônibus amarelo”, codirigido com Rodrigo Lima. Com duração de sete horas, o filme será exibido na quinta (31/8), às 13h.  

“É a possibilidade de um cineasta narrar-se dentro da própria linguagem sem que seja necessário qualquer limite biográfico ou autobiográfico. Com imagens de dezenas de filmes, associando uma experiência a outra, com registros de bastidores, num trabalho de restauração e preservação com a Cinemateca do MAM e Rodrigo Lima, o montador-preservador, a obra é um épico”, afirma Marcela Borela.

Outros destaques ficam por conta da estreia no Brasil do premiado longa-metragem pandêmico, “Uma Mulher Escapa” (A Womens Escapes). O trabalho foi dirigido em colaboração pelo turco Burak Çevik e pelos artistas canadenses Sofia Bohdanowicz e Blake. “As interações típicas do trabalho de Blake Williams com óculos 3D anaglifos compõem uma das mais interessantes experiências da mostra Cineastas na Fronteira”, destaca Camilla Margarida, curadora e diretora do festival. A curadoria ainda chama atenção para a exibição do novo longa-metragem da artista francesa, Gaelle Rouard, que estreia seu novo trabalho todo filmado em 16mm, revelado e colorido por ela, “Escuridão Flamejante”, uma das obras primas imperdíveis desta edição.   

Cerrado, Fronteira e Brasília 

O Distrito Federal está representado nesta edição com seis realizações. “Lubrina”, de Leonardo Hecht e Vinícius Fernandes, é o único filme do Distrito Federal selecionado para a mostra “Cineastas na Fronteira”, principal certame do festival. “Lubrina é um encontro com a memória kalunga, criação de arquivo e corpo coletivo, arte e fenômeno comunitário”, destaca Juliane Peixoto, curadora do Fronteira. 

As outras cinco obras do DF integram a Mostra Cadmo e o Dragão, que tem além de “Paisagem em Chamas”, “A Árvore”, de Ana Vaz, – a sua estreia no Brasil – ; “Cemitério Verde”, de Maurício Chades; “Luta pela Terra”, de Camilla Shinoda e Tiago de Aragão e “Vermelho Bruto”, de Amanda Devulsky. 

Nesta 5a edição, o Fronteira atravessa os limites das linhas inscritas dentro do território goiano e chega pela primeira vez ao Distrito Federal. Para conhecer as edições anteriores: www.fronteirafestival.com. Borela, que mora no DF há quatro anos, recupera a ideia de Luiz Sérgio Duarte da Silva, na obra “Brasília: modernidade e periferia”, de que Goiânia e Brasília são consideradas “Cidades Novas de Fronteira”. 

Este tipo de cidade, explica a professora do IFB, Marcela Borela, foi construída no “meio do nada” como obra do estado nacional para ocupar o território e modernizar o país. “Ambas são “cidades planejadas” mas com inventores diferentes em momentos diferentes. Goiânia é filha da Revolução de 1930, imaginada e construída por Vargas. Ela é sinal da derrota das oligarquias rurais da antiga capital Goiás Velho, em virtude da subida da burguesia liberal local. Já Brasília é ao mesmo tempo que o aprofundamento da fronteira agrícola ao norte, o maior acontecimento civilizatório do oeste, com toda sua densidade colonizadora. Trata-se da mesma Fronteira, o centro do Brasil.”,  diz Marcela, aproximando as duas cidades. 

Em 2023, o Fronteira é uma co-produção Júpiter Filmes e Barroca Filmes e realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF). Provocado por um coletivo de programadores, o Fronteira recebeu 1021 inscrições de 47 países diferentes. Assinam a curadoria da refundação do festival no cerrado Ana Flávia Marú, Camilla Margarida, Henrique Borela, Juliane Peixoto, Marcela Borela e Rafael Castanheira Parrode.