26/08/2021, 09:11
Gafanhotos carnívoros
por André Cunha
Se a imagem de ondas de gafanhotos destruindo plantações já é algo assustador, imaginem só o quão horripilante seria se esses insetos vorazes subitamente revelassem apetite por sangue. Foi partindo dessa premissa que Jérôme Genevray escreveu o roteiro de A Nuvem (2021), dirigido por Just Philippot, um terror francês inovador e que dá o que pensar sobre a relação ser-humano x natureza e sobre a selvageria do capitalismo tardio.
Virginie (Suliane Brahin), viúva, vive numa fazenda com dois filhos, onde desenvolve um trabalho singular: criar gafanhotos para transformá-los em farinha de proteína animal e vendê-los para quem se interessar pelo produto. Como o interesse anda pequeno e a pequena colônia não apresenta bons resultados, a crise parece cada vez mais próxima. Até que, em função de eventos furtuitos não muito bem explicados, os insetos passam a se alimentar de sangue e a reproduzir loucamente, fazendo a produção disparar.
A vontade de que o negócio vingue a qualquer custo faz com que Virginie desenvolva uma relação bisonha com os gafanhotos, chegando a oferecer o próprio corpo em holocausto. A metáfora sobre como o capitalismo devora as pessoas é bem bolada, mas o filme tem mais o oferecer. Atual e inquietante, A Nuvem tem influência de Os Pássaros (1963), de Hitchcock, assim como de outras ficções científicas e fantasias contemporâneas. Estranho e exótico à princípio, apresenta uma textura firme e nutritiva, igualzinho a uma farinha de gafanhotos. Bom apetite!
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