Quando criança, eu morava próximo aos eixos e ainda eram lá os desfiles do Sete de Setembro. Meus pais nos levaram algumas vezes para assistir à passagem de tanques, soldados, bandas e cavalos. Confesso: era mais por esses últimos que eu ia. E, também, pela expectativa de ver alguém errar um passo naquela coreografia de quartel.
Nunca, porém, imaginei que veria, em um Dia da Independência, um passo em falso tão lastimável como o que Bolsonaro pretende dar na próxima terça-feira, rumo ao golpe, “dentro das quatro linhas da constituição”, como diz, mal amparado pelo artigo 142. Para isso, ele espera o apoio popular, por meio de manifestações gigantescas. É verdade que a democracia compreende o direito da população externar sua posição, por mais errada que ela seja, como, por exemplo, quando pede o fim… da democracia.
O problema é que o presidente e seu gabinete do ódio vêm tocando seu berrante para levar esse rebanho da palavra à prática, atuando para que muitos dos que lá estarão para exercer sua liberdade de expressão, estejam dispostos a fazê-lo à bala. Entre seus apoiadores há policiais, milicianos e muita “gente de bem” contaminada por sua sanha armamentista e não está afastado o temor de insubordinação das forças destacadas para coibir exageros. Mesmo que isso não ocorra, há risco de derramamento de sangue e prejuízos ao patrimônio. Perfis bolsonaristas falam em ataques ao STF, Congresso e Embaixada da China. Esta, por território estrangeiro, tem sua própria defesa e espero que nos outros se garanta, ao menos, a segurança de pessoas e documentos. Para piorar, com a frequente exposição das falcatruas, rachadinhas, compras suspeitas de vacinas e mansões, os alvos só aumentam. A PGR denunciou Roberto Jefferson em crime que implica também o filho 03 e o MPRJ quebrou os sigilos do 02 e da ex-madastra, Ana Cristina.
Havia quem reclamasse da sujeira deixada pelos cavalos nos desfiles, mas era só jogar pro lado que adubava o gramado.
Já a dessa gente vai ficar fedendo por anos.