Menu

17/12/2019, 17:38

Isso nunca tinha acontecido antes

por André Cunha

Uma das primeiras séries nacionais a estrear em 2019, Homens, escrita e estrelada por Fábio Porchat e transmitida pelo Comedy Central, abordava com um humor um assunto duro pros representantes do sexo masculino: o pau mole. “Faz um ano que eu tenho brochado” confessa o protagonista pra terapeuta no primeiro episódio. E revela aos amigos com precisão exasperante: “eu brochei vinte e três vezes.”

            Interpretado por Rafael Portugal, com quem mantém diálogos psicanalíticos, o pau mole de Porchat é a metáfora perfeita de 2019, o ano em que ereção não veio. A conciliação nacional fracassou. O leilão do pré-sal não vingou. O PIB não alavancou. O presidente posou pra fotos e vídeos fazendo flexões de braço, mas estava claramente só mexendo o pescoço. Sim, vergonhoso.

            Precisamos falar sobre pessoas disfuncionais. Os roteiristas já começaram. Em 2019 eles escreveram sobre um comediante gay com fobia de palco que é o melhor amigo de uma dominatrix sadomasoquista (Amizade Dolorida); uma mulher promíscua que se apaixona por um padre (Fleabag); um adolescente tímido que abre na escola um consultório de terapia sexual – “apesar de não ter perdido a virgindade ainda, ele é uma espécie de especialista em sexo” (Sex Education); e tantos outros temas labirínticos.

            Podem comparar: os personagens dos filmes e séries adolescentes do passado (digamos anos oitenta) eram bem menos enigmáticos. Hoje, nada é o que parece. O núcleo dramático de Euphoria, a série antenada da HBO sobre os millennials, é composto por um gay enrustido, uma drogada tarja preta em recuperação e um menino que virou menina. Todos têm perfis em redes sociais e o cyber-bullying aparece com frequência. Uma adolescente gordinha e bem resolvida tira a roupa na webcan e realiza taras de homens que pagam pra ouvi-la dizer o quanto seus órgãos sexuais são ridículos e pequenos.

            Inquietante. Angustiante. Perverso. Mais ou menos como no livro Cat Person e Outros Contos, de Kristen Roupenian, descrito dessa forma na orelha: “este livro apresenta uma galeria de personagens profundamente humanos e, por isso mesmo, complexos e inquietantes. Como nós, eles buscam se envolver apesar das angustias, contradições, perversões e, sobretudo, de uma dificuldade intransponível de comunicação.”

            Apesar das dificuldades, Roupenian escreveu um livro excelente. Ela ficou famosa no final de 2017 quando publicou o conto Cat Person na New Yorker sobre um cara que parece legal mas no fundo é um babaca. Lançada em 2019 no Brasil pela Cia das Letras com outros textos, a coletânea mostra que a autora é fluente em vários temas além da babaquice masculina. Tão bom quanto Cat Person e Outros Contos é Ela Queria Amar, Mas Estava Armada, de Liliane Prata (Instante). Na mesma sintonia, Mulheres Difíceis, de Roxane Gay (Globo Livros), e Três Mulheres, de Lisa Taddeo (HarperCollins) – “o livro mais comentado do ano.” Lê-las é uma maneira fascinante de (tentar) entender o que é ser mulher hoje em dia.

            ***

            Quanto a ser homem, além da notória inabilidade em erigir o Impávido Colosso, há os que não cansam de passar vergonha em manifestações histriônicas de macheza e machismo. Vejam as diatribes do ex Procurador Geral Rodrigo Janot, por exemplo. O quiproquó é resumido a seguir numa matéria do Globo:

            “Em maio de 2017, o procurador pediu o impedimento de Gilmar na análise de um habeas corpus de Eike Batista, com o argumento de que a mulher do ministro, Guiomar Mendes, atuava no escritório de Sérgio Bermudes, que advogava para o empresário. Ao se defender em ofício, Gilmar afirmou que Letícia Ladeira Monteiro de Barros, filha de Janot, advogava para a OAS em processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo o ministro, a filha do procurador poderia na época ser credora de honorários advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava Jato. O episódio provocou a raiva de Janot. ´Aí eu saí do sério` resumiu.”

            Ao sair do sério, Janot tomou uma atitude intempestiva: decidiu matar Gilmar. Entrou no STF armado com o seguinte propósito: “ia dar um tiro na cara dele e depois me suicidaria.” Na hora em que estava frente a frente com o dito cujo pipocou, mas usou o delírio assassino como estratégia de marketing no lançamento do livro de memórias Nada Menos que Tudo (Planeta). O tiro saiu pela culatra, o livro não vendeu bem e Janot ficou com fama de maluco. Pior, maluco e machista (será que ficaria tão bravo se Gilmar tivesse citado um filho)? Aparentemente, Janot não tolera o fato de alguém dizer que Letícia trabalha ou trabalhou na OAS, como o pai que se recusa a acreditar que a filha não é mais virgem. Uma relação tóxica, pra dizer o mínimo.

            Por falar em relações tóxicas, o Nobel de Literatura atrasado foi dado ao austríaco Peter Handke, amigo e admirador do falecido Slobodan Milosevic, acusado de genocídio e crimes de guerra (o desse ano, à polonesa Olga Tokarczuk). O documentário Leaving Neverland relatou os crimes sexuais de Michael Jackson. Bacurau, de Kleber Mendonça Filho, narrou a saga de um grupo de gringos que se diverte metralhando brasileiros. Parasita, de Joon-ho Bong, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, contou a história de uma família sul coreana pobre que se infiltra no cotidiano de uma família rica. Nós, de Jordan Peele, a de um grupo de “duplos” que vive nos subterrâneos e trama uma vingança contra os de cima. Na série Chernobyl, burocratas e militares soviéticos tentaram sem sucesso limpar a maior cagada ambiental de todos os tempos. Nível de toxidade: alarmante.

            Joker é sobre um comediante fracassado assolado por crises histéricas de riso que, no momento apoteótico, dá um tiro na cara do interlocutor (o personagem interpretado por Joaquim Phoenix fez o que Janot não teve coragem de fazer). Se por um lado Joker levou a outro patamar filmes inspirados em super-heróis e personagens dos quadrinhos, por outro Martin Scorsese polemizou ao afirmar que os blockbusters da Marvel “não são cinema.” É uma polêmica boa.

            ***

            Em maio Chico Buarque ganhou o Prêmio Camões pelo conjunto da obra. Como trata-se de um prêmio dado pelos governos de Brasil e Portugal, o Presidente da República deve assinar o diploma pra oficializar a outorga. E, adivinhem? O presidente se recusou porque Chico é de esquerda. “A não assinatura de Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões” declarou o compositor de Apesar de Você no Instagram.  Depois de alguns romances medianos, Chico acaba de lançar Essa Gente (Cia das Letras), que tem recebido boas críticas. Nele o protagonista “passa por um deserto criativo e emocional, tendo por pano de fundo um Rio de Janeiro que sangra e estrebucha sob o flagelo das feridas sociais finalmente supuradas, ostensivas.”

            Quem também passou por um deserto criativo e emocional foi Florent-Claude Labrouste, narrador e protagonista de Serotonina (Alfaguara), o mais recente romance de Michel Houllebecq, considerado pela The Spectator “o evento literário do ano.” Ganha um pirulito quem adivinhar qual terrível problema psicossomático aflige esse melancólico francês de meia idade. Mas aqui não só o membro do personagem foi derrotado pela força da gravidade, como a própria civilização ocidental parece a beira do colapso. “Florent-Claude tem quarenta e seis anos, detesta seu nome e toma antidepressivos que liberam serotonina e causam três efeitos colaterais: náusea, falta de libido e impotência. A França está afundando, a União Europeia está afundando, a vida de Florent-Claude não parece muito melhor. O sexo é uma catástrofe.”

            Diante de tão catastrófica situação, talvez a melhor saída seja a adotada pela narradora de Morra, Amor (Instante), escrito por Ariana Harwicz: encarar o intercurso sexual como um ato meramente teórico. “Gosto de pensar em sexo, não de fazer. Sempre fui bem na teoria e reprovei na prática, por isso não sei dirigir, mas sei de cabeça as leis de trânsito.” Estaríamos caminhando em direção a uma sociedade de pornógrafos solitários, como a personagem interpretada por Khatryn Hahn na série Mrs. Fletcher?

            É o que dá a entender a letra de Carreira Solo, de Gustavo Lima, a música mais tocada do ano no Spotify: “eu vou seguir carreira solo / eu tô trocando o repertório / e na minha cama o meu show segue normal / com participação especial.” De quem? Do x-vídeos?

            Por essas e outras o cantor e compositor Milton Nascimento declarou à Folha de São Paulo num surto de sinceridade: “a música brasileira tá uma merda. As letras então, meu Deus do céu. Uma porcaria.”

            A seguir, trechos de livros publicados no Brasil em 2019. Boa leitura! 

            A incomunicabilidade humana segundo Houllebecq – Não é bom que os amantes falem a mesma língua, não é bom que possam se entender de verdade, que consigam se comunicar verbalmente, porque a vocação da palavra não é criar amor, mas sim divisão e ódio, a palavra separa à medida que é formulada, enquanto um balbucio amoroso sem forma, semilinguístico, falar com sua mulher ou com seu homem como se fala com seu cachorro, cria as condições de um amor incondicional e duradouro. As coisas até poderiam correr bem se pudéssemos nos limitar a questões imediatas e concretas – cadê as chaves da garagem?, a que horas vem o eletricista? -, mas passando daí começa o reino da confusão, do desamor e do divórcio. (Serotonina. Michel Houllebecq, Alfaguara).

            A grande bobagem – Ele estava me esperando para a tal conversa da separação. Será que desligamento não seria a palavra mais apropriada? Porque, depois de alguns anos de casamento, marido e mulher viram sócios apenas. A paixão, o tesão e o carinho são substituídos por uma planilha que define quanto entra, quanto sai, e a folha de ponto de cada um deles. Não vejo mal nenhum nisso. Achava nossa empresa um exemplo de sucesso, quase uma corporation. Eu entrava com o dinheiro, Lauro, com o tempo; e ninguém parecia insatisfeito. E agora tinha que vir com aquela história de se apaixonar? Não percebia que essa bobagem que ele chama de amor, inevitavelmente, ao longo dos anos, seria transformada numa nova e complexa planilha? O amor de hoje é a planilha de amanhã, Lauro! (Intragável. Marília Passos, Labrador). 

            A terrível verdade – Muita gente gosta de moralizar, dizendo que é contra a tortura. Aí eu pergunto: ´Ah, é? Você é contra a tortura? E se, para salvar a vida de um filho, você tiver a oportunidade de espancar um monstro que já matou milhões de pessoas? Você faz o que?` Ninguém responde. Ninguém vai dizer que sacrificaria um filho só pra ser coerente com um juízo moral. Então as pessoas acabam saindo pela tangente, recorrendo a algum tipo de argumento racional tipo: ´Tortura não funciona.`  – Reeves novamente se vira para o lado. Com um semblante grave, pesado, afirma: A tortura funciona. Essa é a mais terrível verdade. (Até o Fim. Harlan Coben, Arqueiro).

            A imaginação feminina – Ao longo da história, homens partiram o coração de mulheres de uma determinada maneira. Eles as amam, ou as amam pela metade, em seguida se cansam e passam semanas e meses se desvencilhando em silêncio, tirando o time de campo, se afastando, e nunca mais ligam. Enquanto isso, as mulheres esperam. Quanto mais apaixonadas estão e quanto menos opções têm, mais tempo esperam, nutrindo a esperança de que ele reaparecerá com um celular quebrado, ou com a cara quebrada, e dizer: me perdoe, fui enterrado vivo e a única coisa na qual pensava era você e tive medo de que você achasse que esqueci, quando a verdade é apenas que perdi seu número, foi roubado de mim pelos homens que me enterraram vivo, mas passei três anos procurando em listas telefônicas e agora encontrei. Eu não desapareci, tudo que eu sentia não foi embora simplesmente. Você estava certa em pensar que isso seria cruel, inconcebível, impossível. Case comigo. (Três Mulheres. Lisa Taddeo, HarperCollins).

            Da necessidade de instalar detectores de metais no Supremo – Era como se estivessem arrancando meu fígado sem anestesia. Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio à algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha. Só não houve o gesto extremo porque, no instante decisivo, a mão invisível do bom senso tocou meu ombro e disse: não. (Nada Menos que Tudo. Rodrigo Janot, Planeta).

            Escritores, esses  malucos – Há uma escola de pensamento que é da opinião de que distúrbios de humor, principalmente os distúrbios oscilantes, favorecem a criatividade. A incidência de distúrbios de humor na vida de escritores, por exemplo, é significativamente maior do que na vida dos não escritores de mesmo sexo, faixa etária e formação educacional. É possível que alterações de humor fortaleçam ciclos produtivos de melancolia reflexiva seguidos de ciclos que possibilitam uma explosão de energia. (Românticos Incuráveis. Frank Tallis, Faro Editorial).

            Amor, cê tá bem? – Chegamos em casa, o que a gente vai jantar?, pergunta. Ponho o avental e corto cebolas, corto cebolas, corto cebolas bem fininhas, até fatiar o dedo. E rio. Quanto mais sério é, mais vontade de rir me dá. Eu me jogo no chão cheio de gotinhas terrosas. Esta história toda dos doces me faz gargalhar. Tapa a boca quando tossir, me escuto dizer.  Eu vivo tapando. Sou tão suja, sou tão cretina, tão sem pai nem mãe que chega a dar cãibra. A casa tresanda a cebola. (Morra, Amor. Ariana Harwicz, Instante).

            Então tá – Ted perde a virgindade com Anna Travis em 13 de março de 1999, na cama de cima do beliche do dormitório dela na faculdade, depois de eles completarem três meses e meio de namoro à distância. Para surpresa de ambas as partes, Ted tem dificuldade em manter a ereção. O motivo, embora ele nunca, jamais fosse confessar, é a expressão no rosto de Anna. Ela parece tão comportada. Parece que ela está tomando um remédio, ou comendo legumes. Parece que ela está pensando: então tá, minha vida é tão péssima que acho que não faz diferença se eu transar com o Ted. (Cat Person e Outros Contos. Kristen Roupenian, Cia das Letras).

            Cinquenta tons de vinho tinto – Quando fiquei deitada com o rosto enfiado nos lençóis ásperos, ele abriu minhas pernas. Apoiou uma mão suada na minha nuca, me imobilizou e me fodeu com a garrafa de vinho, o Merlot caro espirrando por todo lado. Tinha visto isso num filme, ele disse. Estava me arregaçando, ele disse. Me perguntei se o vinho ia manchar meu útero. Naquele momento, me senti desgraçada e humilhada. Foi um momento de honestidade tão perfeita que gozei, e ele percebeu. (Mulheres Difíceis. Roxane Gay, Globo Livros).

            Feminismo para psicanalistas – Não é que a gente tem inveja do pinto, é que a gente já saca desde que a gente é pequena que a gente vai se ferrar por não ter pinto, a gente já entende que o lugar ocupado por quem tem pinto é melhor do que lugar ocupado por quem não tem pinto, não é uma inveja do pinto literal, pelo amor de Deus, tanto faz fazer xixi em pé ou sentada, a gente só não quer que quem que faça xixi sentada seja fodido, é só isso que a gente quer, e a gente só quer isso porque isso não faz e nunca fez o menor sentido, como pode Freud ter feito isso com a gente, ter nos chamado de invejosas do pinto em vez de marcadas pela opressão do pinto? Como pode Freud ter arranjado mais um jeito de a gente se sentir culpada? (Ela Queria Amar, Mas Estava Armada. Liliane Prata, Instante).

            Eram os realistas glutões? – Eu teria dito, entre sério e divertido, sem rolar pela cama, sem amassar o Flaubert, eu teria dito Você está certa, o realismo francês é, antes de mais nada, uma questão gastronômica. Porque não apenas Flaubert e Balzac, mas também Sthendal era gordo, eu sentenciaria, e Marie exclamaria Não é possível. Eu continuaria, apoiando a cabeça na mão, o cotovelo fincado no colchão, diria o Victor Hugo e Émile Zola, eles também, os dois, eram adiposos, não apenas pançudos, por mais que você ache que não é possível. (Porca. Alexandre Marques Rodrigues, Record).

            A era da vulgaridade – Pensei, vou e fico um tempo, mas logo surgiu a oportunidade de dar aula no Colégio Cataguases, me enturmei com um pessoal louquíssimo que fazia festival de cinema, festival de música, poesia… época boa… desbunde… maconha… liberação sexual… Década de sessenta, sabe…” Traga o cigarro, sopra a fumaça para o alto. “Ah, não é como agora, a cidade, o país, tudo tão vulgar, as pessoas, os homens, as mulheres, as músicas, as roupas, tudo, tudo tão vulgar, vulgar e medíocre, e eu posso dizer isso, porque sou um artista frustrado, que pintava uns quadrinhos pra expor nas vitrinas das lojas da rua do Comércio, meu Deus, que horror!  (O Verão Tardio. Luiz Ruffato, Cia das Letras).

            Hein??? – O verdadeiro pensamento é sempre secreto, desde a origem do mundo. Pensa-se por apócope, em apneia. Embaixo, a vida transcorre como uma seiva, lenta, subterrânea. (A Ordem do Dia. Éric Vuillard, Tusquets).

            Encontramos algo que funciona na Venezuela – Ninguém estava completamente seguro em sua casa. Lá fora, na selva, os métodos para neutralizar o oponente alcançaram um grau de perfeição altíssimo. Naquele país, a única coisa que funcionava era a máquina de matar e roubar, a engenharia da pilhagem. (Noite em Caracas. Karina Sainz Borgo, Intrínseca).

            Toma! – Eu me inclinei para trás, me joguei para frente e bati nela. De novo e de novo; os punhos doendo com o impacto. Ouvi gritos assustados, brutais e urgentes, mas os ignorei e continuei. Tome isso. Tome isso, sua puta, sua vagabunda. Mais, Sam, mais. Mentirosa! Vadia! Mãe puta vagabunda dos infernos. Mulher horrenda. Mulher horrível e cruel, você não merece viver. (Você Nasceu para Isso. Michelle Sacks, Intrínseca).

            A origem do apelido – Há duas razões principais pelas quais Honduras teve tanta dificuldade em se reerguer depois da tempestade. A primeira foi o sistema de propriedade fundiária herdada da Espanha, no qual um pequeno número de famílias extremamente ricas acabava controlando a maior parte da terra. Porém, ainda mais debilitante era a relação insalubre do país com os Estados Unidos, cujas políticas míopes e interesses comerciais mantiveram Honduras politicamente instável por mais de um século. Desde de época da sua independência, em 1821, até os dias de hoje, Honduras vem sofrendo com uma história tumultuada que inclui cerca de trezentas guerras civis, rebeliões, golpes e mudanças não planejadas de governo. (…) Em 1885, um empreendedor de Boston, Andrew Preston, juntamente com um sócio criou a Boston Fruit Company com a ideia de usar rápidos navios a vapor, em vez de velejar, por longo tempo, para levar as bananas ao mercado antes que estragassem. Foi um sucesso: baratas e deliciosas, as bananas tomaram o país como uma tempestade. Na virada do século a companhia Boston Fruit, que mais tarde foi fundida à United Fruit Company, tinha lavrado 16 mil hectares de plantações de banana ao longo da costa norte de Honduras, tornando-se a maior empregadora do país. Esse foi o começo de uma longa e destrutiva relação entre as empresas americanas de banana e o Estado hondurenho, que ganhou o apelido pejorativo de “República das Bananas.” (A Cidade Perdida do Deus Macaco. Douglas Preston, Vestígio).  

            Profissões do futuro – Zoologista – corrigiu Redburn, como se estivesse acostumado com aquilo. – Criptozoologista. Sou um caçador de monstros mitológicos. No momento, levando um grifo para um colecionador muito rico na Indonésia.

            Sei – disse Anton, desconfiado. – E quando você diz grifo, na verdade quer dizer..

            Quero dizer que estou com o cruzamento de um leão com uma águia de 450 quilos e temperamento explosivo acorrentado dentro da jaula na caçamba do caminhão. É isso o que quero dizer. (Deserto dos Desejos. Pablo Amaral Rebbello, Constelação).

            Educação à distância – Isso… eu não esperava. Vamos fazer bukkake – comentou o Dentinho. Essa palavra quase exótica produziu na paranza uma única imagem: um circulo de homens que ejaculavam em cima de uma mulher de joelhos. Toda a formação sexual deles aconteceu assistindo PornHub, e sempre tinham visto o bukakke como uma quimera irrealizável. Tucano estava excitadíssimo e afrouxou a pressão do elástico da cueca. (Os Meninos de Nápoles. Roberto Saviano, Cia das Letras).

            A arte da fofoca – Outro aspecto importante a se levar em conta em Warhol é que eles se proclamava um fofoqueiro assumido. Isso reforça seu lado voyeur. Ele sempre gostou de ouvir o que as pessoas achavam umas das outras, pois considerava que aprendia tanto sobre a pessoa que falava quanto sobre a que era dissecada. “Isso é chamado de fofoca, claro, e é uma obsessão minha” (WARHOL, 2013, p. 93). Seus amigos observam que ele chegava até mesmo a criar competição entre as pessoas para vê-las brigando e falando uma das outras, isto é, ele estimulava a fofocarem entre si. No entanto, sempre que uma situação começava a ficar problemática, ele procurava não se envolver. (A Vida como Obra de Arte: de Andy Warhol a Chacal ou do A ao C e de volta ao A/C. Juliana Carvalho de Araújo de Barros, Bonecker).         

  Sem dor, sem ganho – Havia, portanto, algo de nobre em ser ostra. Delicadas que eram, poderiam ser feridas por um pequeno grão de areia, mas carregavam em si a potência de serem também resilientes e aprenderem com suas dores e seus sofrimentos. Vivenciar o processo de transformação de cada ferida curada em uma joia, também lhes trazia grande aprendizagem. Perceber que em seu interior está a potencialidade da cura de suas feridas torna cada ostra mais forte e consciente de sua capacidade de recuperação. E, assim, as ostras mais experientes terminaram de conversar com as pequenas ostrinhas e foram todas descansar satisfeitas, reflexivas com uma última frase em seus pensamentos: uma ostra que não foi ferida não produz pérolas. (Mergulho na Roda da Vida. Mirna Almeida, Guardiã).

 

Tags: , ,