Para evitar problemas ortodônticos futuros e promover autoestima, a campanha “Julho Laranja” esclarece a importância dos cuidados preventivos para crianças a partir dos 6 anos.

A última Pesquisa Nacional de Saúde Bucal (SB Brasil) revelou que 53,17% das crianças brasileiras estão livres de cáries, um aumento de 14% em relação ao levantamento de 2010, que registrou 46,6% sem a doença. Entretanto, apesar desse avanço, ainda é preocupante que 47% das crianças ainda tenham cárie, indicando a necessidade contínua de políticas públicas eficazes para melhorar a saúde bucal infantil no país.

Para a coordenadora do curso de odontologia da Faculdade Aria, Maria Letícia Bucchianeri, a saúde bucal das crianças requer atenção e cuidados especiais. “Apesar de muitas vezes ser negligenciada, pela crença de que os dentes de leite não passam de uma ‘dentição temporária’, a dentição de leite é uma etapa crucial para o desenvolvimento dos dentes permanentes, e qualquer problema nessa fase pode trazer consequências a longo prazo”, explica.

O estudo ainda destacou um crescimento significativo na proporção de crianças de 5 anos sem cárie nas regiões Sul (40,7%), Sudeste (21,9%), Nordeste (17,1%) e Norte (11,2%), tanto em capitais quanto em cidades do interior. Contudo, na região Centro-Oeste apresentou uma leve diminuição (de 38,8% para 37,9%).

Diante deste cenário, a campanha “Julho Laranja” visa divulgar e esclarecer a população quanto à importância em promover cuidados ortodônticos preventivos e interceptivos para crianças a partir dos 6 anos de idade. Além de valorizar a abordagem ortodôntica precoce que visa evitar problemas mais difíceis de serem tratados na vida adulta, promove a autoestima e bem-estar psicológico. Também são estimulados o desenvolvimento de hábitos saudáveis na criança, como uma higiene bucal adequada, uma alimentação balanceada e nutritiva e boa noite de sono. Os benefícios da adoção destes hábitos saudáveis, associados à intervenção.

As consultas odontológicas durante a infância podem identificar fatores que podem levar a problemas ortodônticos no futuro, como a respiração bucal e alterações no padrão de deglutição. “É importante que os pais entendam que a primeira consulta ortodôntica não deve esperar a substituição de todos os dentes de leite pelos dentes permanentes. Essa campanha vem para alertar que a primeira avaliação ortodôntica deve ser feita mesmo se a criança possuir ainda apenas dentes de leite ou, pelo menos, no início da troca dentária, geralmente por volta dos 6 anos de idade.”

Hábitos saudáveis

A especialista faz um alerta aos pais: a maioria dos problemas de saúde bucal ocorre devido à falta de higienização adequada. “Nas crianças, a doença cárie merece atenção especial, pois está diretamente ligada ao consumo de alimentos açucarados”, destaca. Além disso, manchas esbranquiçadas ou escurecidas nos dentes devem ser examinadas pelo dentista, assim como o sangramento gengival durante a escovação, uso do fio dental ou mastigação.

Problemas como mau hálito, alterações no padrão de deglutição e fala, bruxismo diurno ou noturno, e condições como sapinho, candidíase e estomatite, requerem avaliação profissional. Traumas dentários também não devem ser negligenciados, mesmo nos dentes de leite. “É crucial que as crianças façam consultas periódicas ao odontopediatra, iniciando antes mesmo do nascimento dos primeiros dentes, diante da variedade de condições que podem afetar sua saúde bucal”, avalia Bucchianeri.

Outro ponto que requer atenção é a alimentação das crianças. “Além de uma dieta balanceada, é essencial evitar o consumo excessivo de açúcares, alimentos processados e refrigerantes, que são conhecidos por contribuir para o surgimento de cáries e outros problemas dentários. Promover hábitos saudáveis de higiene bucal, como escovação frequente com creme dental fluorado, uso diário de fio dental e visitas regulares ao dentista desde a infância, são medidas preventivas fundamentais”, finaliza Maria Letícia.

SB Brasil

A Pesquisa SB Brasil 2020/2023 é a principal avaliação das condições de saúde bucal da população. Mais de 40 mil pessoas foram entrevistadas e examinadas nas 27 capitais e em 403 cidades do interior de todo o país, incluindo 7.198 crianças de 5 anos de idade. O estudo é realizado no âmbito da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), mais conhecida como Brasil Sorridente, implementada pelo Ministério da Saúde. Diretrizes da política visam a reorganização e reorientação do modelo de atenção à saúde bucal, atendendo a princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).