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16/09/2022, 10:00

Laura Conrado no divã

por Felipe Lucchesi

Colunista: Felipe Lucchesi

A escritora Laura Conrado (ganhadora do “Prêmio Jovem Brasileiro” como destaque na Literatura e do “Prêmio Destaques Literários”) mal podia imaginar que as suas sessões com o Psicanalista rondariam o imaginário de muitos leitores.
Freud, me tira dessa!“, livro publicado em 2012 mas que recentemente, ganhou uma versão atualizada (edição publicada pelo selo Culturama Plural), já é sucesso garantido principalmente entre o público mais jovem.
A obra possui uma leitura fluída com texto cativante, atual e inclusivo.

O livro



O livro conta a história de Catarina, a Cat, uma jovem adulta que já teve algumas conquistas: saiu da casa dos pais para morar na capital mineira, tem seu carro próprio e um bom emprego. Mesmo assim, seus conflitos se acumulam, sobretudo nas desilusões da vida amorosa, vistos por ela como tragédias. Em busca de uma mudança, ela procura ajuda em um processo psicoterapêutico.
No processo, Cat encontra muito autoconhecimento, e confronta verdades doloridas de seu passado, mas se complica ainda mais quando se apaixona pelo seu terapeuta. Agora, ela precisa entender como resolver essa situação e continuar correndo atrás de seus sonhos.


A Escritora

Crédito – Foto – Divulgação


Celebrada pelos leitores e pela mídia como um importante nome entre o público jovem, Laura Conrado conquista leitores com a maneira divertida com a qual consegue abordar temas profundos. Sua escrita reflete os anseios de uma geração, e aborda temas importantes como o ingresso na vida adulta e o protagonismo feminino.
É autora de títulos de sucesso entre as comédias românticas contemporâneas, como a série Freud, Me Tira Dessa!Quando Saturno VoltarNa Minha Onda e O dia depois do fora. Foi a ganhadora do prêmio Jovem Brasileiro como destaque na Literatura e do prêmio Destaques Literários, ambos em 2012, pelo voto popular. Ainda, participou da antologia Shakespeare e Elas, onde assinou a releitura de Sonhos de Uma Noite de Verão. Mineira de Belo Horizonte, é mestre em Linguagens pelo POSLING/CEFET-MG, pós-graduada em Educação, Criatividade e Tecnologia, especialista em estruturação de romances e jornalista. Laura também é palestrante e facilitadora de diversos cursos de escrita e capacitação de educadores, com o trabalho noticiado em grandes mídias do país.


Entrevista Exclusiva


Felipe Lucchesi (Jornalista) – Como despertou o “ser escritora” para você?

Laura Conrado (Escritora) – Eu me lembro de começar a ler, ainda criança, e ficar impressionada em como as palavras conseguiam dar nome ao que eu sentia.
De verdade, lembro-me de ler livros infantis e as revistinhas da Turma da Mônica, de ver algumas falas e pensar “nossa, eu também sinto isso”, “isso também acontece comigo.” Eu adorava aquela sensação de me conhecer pela leitura, então, foi natural querer contar as minhas histórias para tentar provocar o mesmo.

Felipe Lucchesi (Jornalista) – Quando começou a considerar que seus textos lhe dariam uma nova profissão?

Laura Conrado (Escritora) – Embora eu tenha publicado textos infantis quando mais nova, a escrita profissional veio justamente com o Freud, me tira dessa! Quando percebi que consegui estruturar um romance, contar uma história, senti que poderia arriscar.
Além disso, com essa história, consegui ter retorno de leitores: e-mails, mensagens nas redes… Vi que poderia dar certo!

Felipe Lucchesi (Jornalista) – Para você, escrever bem é reflexo de talento ou técnica?

Laura Conrado (Escritora) – Os dois! É inegável que temos habilidades e aptidões. Mas tudo deve e pode ser desenvolvido, melhorado. Ficar apenas na ideia do dom é um pouco fantasioso. Crescimento requer responsabilidade e mesmo quem tem um trabalho criativo deve assimilar tarefas rotineiras.

Felipe Lucchesi (Jornalista) – “Freud, me tira dessa!” sofreu adaptações da primeira edição até a atual. O que mudou? A mudança surgiu diante de um pedido seu ou do próprio público? Há possibilidade de novas mudanças ocorrerem?

Laura Conrado (Escritora) – As mudanças partiram de mim mesma. Como escrevo protagonistas mulheres e como mulher busco ter posturas maduras, despertas e inclusivas, achei que seria coerente mudar algumas coisas no texto em relação à sororidade, por exemplo. Senti que havia um reforço do mito de competição entre as mulheres.
Claro, não somos obrigadas a dar bem com todo mundo, especialmente com outras mulheres, por causa da sororidade, mas diminuir a outra e implicar “só” por ser mulher, não dá mais. Então, como tive a chance, por causa da reedição, mudei alguns pontos, mas nada que alterasse significativamente a história.
Também acrescentei novas cenas de sessão de terapia. Os leitores adoram essas cenas! São as mais esperadas, as que leem com mais calma e as que mais vejo grifadas quando autografo um livro! E para fazer valer a temática do livro, desenvolvi mais cenas no divã. Para mim, é uma alegria, adoro escrever para a Cat, a personagem.

Felipe Lucchesi (Jornalista) – A pergunta que não quer calar: “Seu Psicanalista leu o livro?”

Laura Conrado (Escritora) – Haha. A pergunta de milhões! Quando escrevi o livro, já havia finalizado o processo há uns 4 anos porque me mudei de cidade. Então, não tinha mais vínculo, não via sentido em mandar a ele. Além do mais, acho que o respeitei: analistas sempre mantêm um distanciamento do cliente, de alguma forma, escolhi não transpor isso.
Mas meus outros terapeutas, até hoje sigo em terapia, já leram, recomendam para clientes…! Sempre chega mensagem de leitores que leram o livro por indicação dos psicólogos, eu fico feliz demais!

Crédito – Foto – Divulgação



Felipe Lucchesi (Jornalista) – As personagens do seu livro são fortes e sem medo do julgamento alheio. Até que ponto elas se misturam com a sua própria personalidade e vulnerabilidades?

Laura Conrado (Escritora) – Acho que sempre estamos nos colocando naquilo que produzimos. Alguns teóricos literários não concordam comigo, como pesquisadora, sei disso. Mas, como autora, acredito estamos sempre nos mostrando, numa boa catarse. É um processo precisar cada vez menos da validação alheia, não é algo natural para mim.
Tem esforço, muito autoconhecimento e aceitação de mim mesma. Minhas personagens seguem isso também: começam reféns de alguma situação e, ao longo, da história, crescem e se liberam do que lhes prendiam. E, sim, empresto muito coisa minha para elas, assim como pego para mim os aprendizados delas!

Felipe Lucchesi (Jornalista) – Muitos livros tornam-se filmes ou séries. Quais artistas brasileiros gostaria que fizessem parte do elenco?

Laura Conrado (Escritora) – É um grande sonho ver isso acontecer! Espero logo anunciar isso, que seja uma realidade logo! Para o Freud, me tira dessa!, vejo as atrizes Giovanna Grigio ou a Alice Wegmann como a protagonista Catarina. Ou a Maisa, se ela fosse um pouco mais velha! Para o analista, imagino o Bruno Gagliasso ou o Ricardo Pereira. Para o Guto, acho que o Humberto Carrão ou o Chay Suede estariam perfeitos.
Quem sabe, né?

Felipe Lucchesi (Jornalista) – Acredita que o livro pode ser motivador para as pessoas começarem a buscar auxílio psicológico com Psicanalista?

Laura Conrado (Escritora) – Não escrevo com essa pretensão por fazer ficção de entretenimento com muito orgulho e amor! Mas acho que o livro desperta isso, sim! Quando veem na personagem a mudança e as reflexões, fica o desejo de passar por isso também. É muito compensador, acho que todo mundo merece uma boa terapia.

Felipe Lucchesi (Jornalista) – Há um estigma de que escritoras só escrevem para mulheres. Como lida com o machismo na profissão?

Laura Conrado (Escritora) – Isso me incomodava tanto que até fui para a academia lidar com isso. Pesquiso a autoria feminina, tenho um mestrado nessa linha, voltado às personagens em livros endereçados ao público jovem.
Ouvi muito que meus livros eram de “mulherzinha”, como se for menor por ser escrito e por tratar de mulher. É um grande sexismo. Além de termos que trabalhar na escrita e na divulgação do livro, ainda temos que vencer esse estigma que nos desvaloriza. Acho que o caminho, enquanto nossa sociedade avança, é seguir dando meu melhor no trabalho e focando no meu público.

 

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