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03/06/2024, 07:40

Maior congresso de oncologia do mundo apresenta inovações no tratamento para pacientes com câncer

Com forte presença brasileira e apresentação de pesquisas, inovações e discussões sobre oncologia, a ASCO (Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica), maior congresso de oncologia do mundo, que acontece em Chicago, nos Estados Unidos, deve reunir entre os dias 31 de maio e 4 de junho mais de 50 mil médicos e especialistas dedicados ao tratamento do câncer. E, como ocorre todos os anos, as expectativas por estudos que devem impactar mudanças nas práticas clínicas em todo o mundo são altas.

“Serão apresentados estudos com avanços em pesquisas científicas em diversas áreas da oncologia, inclusive com participação de pesquisadores brasileiros da Oncoclínicas&Co. O que há de mais moderno na oncologia, em termos de tratamento, como novas técnicas em imunoterapia, terapia-alvo, Car-T Cell e Inteligência Artificial, entre outros, serão apresentadas na ASCO”, diz Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas&Co e presidente do Instituto Oncoclínicas.

De maneira geral, ele espera evoluções direcionadas à individualização na forma de combater a doença, tanto do ponto de vista científico, quanto por exemplo na detecção da mutação específica que afeta cada indivíduo, como também nos métodos de tratamento. “A individualização das condutas na oncologia é essencial para garantir tratamentos mais eficazes e menos tóxicos, adaptando-se às características biológicas de cada tumor e às condições clínicas do paciente. Buscamos saber quando tirar aquela intervenção ou quando ela é mais necessária. E a individualização passa também por maneiras que ajudem a reduzir e até evitar efeitos colaterais”, explica.

Outra linha abordada pela ASCO que vem ganhando merecido espaço e destaque são os Cuidados Paliativos e o chamado Survivorship. “Há duas décadas, no início dos anos 2000, os profissionais tinham menos consciência e treinamento para essa abordagem. Essa mudança de paradigma é uma ponte de grande relevância quando pensamos na jornada do paciente”, comenta a Clarissa Mathias, oncologista e pesquisadora da Oncoclínicas&Co e primeira mulher brasileira a compor o time global da ASCO, atuando como integrante da diretoria internacional da entidade.

Para ela, desenvolver formas de tratar pessoas com doenças avançadas e que, em alguns casos, de fato ainda são incuráveis significa dar a essas pessoas a chance de viver anos com qualidade. “E não podemos ignorar as sequelas físicas psicológicas que seguem mesmo após o fim dos tratamentos. A reinserção dos pacientes na sociedade em todos os aspectos é fundamental e nossa responsabilidade também, estando entre os aspectos a serem abordados em inúmeras sessões nesta edição do congresso”, completa Clarissa, que, além de participar da comissão responsável pela programação científica do evento, também presidirá um Simpósio Clínico Científico sobre Câncer de Pulmão na ASCO 2024.

  • Pulmão: estudos sobre diferentes tipos tumor são destaques

O tipo de câncer que mais mata no mundo, o de pulmão, mereceu especial atenção dos oncologistas nas últimas décadas e, nesta edição da ASCO, abstracts com avanços serão apresentados em diferentes painéis. William Nassib William Jr., líder nacional da especialidade tumores torácicos da Oncoclínicas, cita entre as mais importantes o uso da tecnologia como aliada. “Uma das boas notícias do congresso é sobre cuidados paliativos via telemedicina introduzido para pacientes com câncer de pulmão de maneira precoce, sinalizando efeitos positivos que nos ajudam a moldar práticas clínicas mais efetivas”, comenta.

Na linha de medicações, o médico sinaliza duas análises relevantes baseadas no uso de imunoterápicos e drogas alvo direcionadas. “Um estudo relevante aborda uma imunoterapia que é dada para pacientes com câncer de pulmão de pequenas células, com doença limitada. Neste caso, a gente já usava imunoterapia para doença extensa e agora teremos dados apresentados de que em casos potencialmente curáveis a imunoterapia pode ser uma opção viável”, diz William William, que participará da sessão de resumo oral sobre o tema “Podemos aumentar o benefício da imunoterapia no câncer de pulmão de células não pequenas?”, parte da agenda de sessões orais do dia 31/05.

Não menos importante, segundo oncologista, são os dados que acenam para novas frentes de adoção do ocimertinib, uma medicação que atua no chamado receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), para casos de câncer de pulmão estadio 3. “Esses pacientes faziam habitualmente quimioterapia e radioterapia, mas agora temos no horizonte um estudo mostrando que para pacientes com mutação no gene EGFR, a terapia-alvo também melhora a eficácia do tratamento. Isso vai ser apresentado na sessão plenária”, explica.

O líder de tumores torácicos da Oncoclínicas cita, adicionalmente, uma pesquisa na linha de diagnóstico precoce, sobre tomografia de rastreamento baseado em histórico familiar. “Tradicionalmente, este exame é feito baseado no histórico de tabagismo dos pacientes, mas uma pesquisa feita em Taiwan sugere a possibilidade de avaliarmos um novo protocolo de indicação, baseado na história familiar, independentemente do tabagismo, ou seja, a recomendação de tomografia de screening para pacientes que têm parentes próximos com câncer de pulmão”, sintetiza William William.

  • Mama: série de apresentações mostram evolução no tratamento

Um dos tipos de tumores mais comuns entre as mulheres, as pesquisas em diagnóstico, tratamento e cuidados para o câncer de mama avançam ano ano. Apesar da especialidade não contar com apresentações de estudos na plenária da Asco 2024, Gustavo Bretas, oncologista da Oncoclínicas e coordenador da oncologia mamária do Hospital Marcos Moraes, acredita que o congresso trará avanços que devem impactar a vida de pacientes com a doença.

No estudo DESTINY-Breast06 (DB-06), foi avaliado o uso do medicamento Trastuzumabe-deruxtecan – uma terapia biológica – em pacientes com câncer de mama com mutação RH+ HER2-, mas com HER2-low ou ultra-low, e que falharam a terapia endócrina e são virgens de quimioterapia. Ou seja, avaliação do T-Dxd em primeira linha de quimioterapia após falha na endocrinoterapia. “Esse estudo já foi divulgado como positivo, mas estamos ansiosos para ver a magnitude do benefício e o perfil de toxicidade”, pontua.

Outros destaques incluem o estudo TROPION-Breast01, que apresenta os PROs (Patient-reported outcomes) do datopotamab-deruxtecan nos pacientes com câncer de mama RH+ HER2-; a avaliação de outros biomarcadores para avaliação de benefício de quimioterapia em pacientes com câncer de mama RH+ HER2- que foram operadas e tiveram linfonodos positivos e atualização do estudo Natalee, que visa avaliar o uso do ribociclibe na adjuväncia de pacientes com câncer de mama RH+HER2- de alto risco.

  • Tumores geniturinários e gastrointestinais: avanços em qualidade de vida

Para o líder nacional de especialidade tumores urológicos da Oncoclínicas, Denis Jardim, há expectativas positivas para os resultados que vão ser apresentados na área de câncer de próstata. “Como destaques, estudos de impacto na qualidade de vida de tratamentos que foram recentemente aprovados – inclusive estão disponíveis no Brasil – incluem o uso do Lutecio PSMA, um radioisótopo, num cenário até antes da quimioterapia, reduzindo assim efeitos colaterais que impactam a qualidade de vida dos pacientes. Também há perspectivas animadoras para os resultados da combinação de bloqueio hormonal com um novo antiandrógeno, no caso, a enzalutamida, para pacientes em cenários mais precoces da doença”.

O congresso deste ano vai contar ainda com a apresentação dos dados do estudo Hércules, focado em câncer de pênis, um tumor raro e de difícil tratamento, com poucos dados de estudos clínicos. “Essa é uma pesquisa que foi desenvolvida no Brasil, combinando quimioterapia com imunoterapia. Vale lembrar que por aqui, o câncer de pênis representa 2% de todos os tipos que atingem os homens, uma alta incidência se comparado a outros países do mundo e que está relacionada a fatores como infecção pelo vírus HPV e também má higiene. Além disso, é impotente lembrar que somamos altas taxas de amputações do órgão e também óbitos – em 2023 o Brasil registrou 651 amputações (totais e parciais) de pênis e 454 óbitos em decorrência da doença”, explica Denis Jardim.

Ainda na linha de cânceres considerados raros, mas cujo crescimento rápido leva a índices de letalidade altos, são aguardados os resultados do estudo ESOPEC, que compara quimioterapia e radioterapia versus quimioterapia isolada nos pacientes com câncer de esôfago – tubo que vai da garganta ao estômago.

Segundo Alexandre Jácome, líder nacional de especialidade tumores gastrointestinais da Oncoclínicas, a doença é assintomática em estágios iniciais e pode crescer rapidamente, invadindo outras camadas do órgão ou mesmo outros órgãos ao redor. “Essa é uma lacuna na literatura da Oncologia Gastrointestinal que esse estudo pretende preencher e tem o potencial, portanto, de modificar a prática clínica. Será apresentado na sessão plenária”.

No mundo, a neoplasia de esôfago é a oitava mais frequente. No Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma, ela é 13ª mais comum – de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados 10.990 novos casos, sendo 8.200 em homens e 2.790 em mulheres, para este ano.