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09/03/2023, 17:15

MUAMBA

por Nena Medeiros

– E aí, dona Zuleica? O que achou do presente pra Micheque?
– O nome dela agora é Misheik.
– Sheik das Arábias?
– Isso.
– Mas, eu não entendi direito.
– O quê?
– Por que tanta confusão?
– Não daria confusão se fosse mesmo um presente entre países. Ele entraria legalmente pela alfândega e seria entregue para a presidência. A bonitona lá até poderia usar, mas não seria dela e ficaria no acervo quando eles saíssem.
– E não era, né?
– Não. Por isso deu confusão. Foi tudo errado, desde o início. Como não eram presentes para o Estado, o ministro sabia que teria que pagar os impostos e, então, escondeu os pacotes nas malas dos assessores e,  ao chegar ao Brasil, ele informou que não havia nada a declarar.
– O imposto é caro?
– É cinquenta por cento do valor do bem importado.
– Eita! Dava uns 8 milhões!
– Exato. Mas como ele não declarou, além do imposto, teria que pagar também a multa, de cinquenta por cento sobre o valor do imposto.
– Vixe! Daí foi que ele inventou que era para a Micheq… Misheik.
– Ele deu a carteirada para tentar passar sem pagar o imposto, mas não acho que tenha inventado.
– Por quê?
– Pela quantidade de vezes que a presidência tentou liberar o pacote, até às vésperas da saída do bozo do país.
– E teve a outra caixa, né? Com presentes para homem…
– Sim. Essa passou na alfândega e provavelmente foi entregue ao presidente.
– Mas ele não devolveu? Para o acervo?
– Na verdade, um ano depois da entrada das caixas ao país, ele deve ter imaginado que essa história viria à tona quando perdeu as eleições e deu um recibo de entrega dela na presidência. A ideia era dar a entender que a intenção sempre foi entregar as joias ao erário. Acontece que ninguém sabe do paradeiro desse segundo presente. Há estimativas de que vale mais de um milhão. Ainda é uma boa grana, embora bem menos que os presentes para a mulher dele.
– Ela disse que não sabia de nada.
– Não duvido. Muito provavelmente, os mimos milionários seriam vendidos. O minto tem histórico, já foi acusado pela mãe do zero quatro de se apropriar de joias dela, que estavam em um cofre.
– Sério?
– Sério! Um ladrãozinho de salário de assessor, de auxílio combustível, moradia e paletó, com certeza não teria o menor pudor em botar à venda as calcinhas da ex, se isso pudesse render algum trocado, que dirá joias?
– É. Coitada.
– Bom… Coitada, ela também não é. Pode até ter sido surpreendida desta vez, mas ela sabia das armações do marido e, certamente, participou de algumas.
– E porque o príncipe lá deu esses presentes?
– É costume que chefes de estado presenteiem outros chefes de estado em visita ao seu país. Mas nunca foi registrado um presente desse valor.
– E por que, então?
– Ah! Tudo indica que foi propina. Um mês antes, os Emirados Árabes adquiriram uma refinaria de petróleo brasileira pela metade do valor de cotação: de vinte por dez bilhões.
– Dez BILHÕES de desconto??? Por uns penduricalhos de alguns milhões? Melhor procurar direito. Até eu que sou bobinha, sei que deve ter entrado muito mais muamba nas alfândegas por aí…