Menu

16/07/2020, 14:05

Não estamos no mesmo barco

Esse é o meu texto de estreia do espaço que foi oportunizado pela equipe do Alô Brasília. Pensei em vários temas importantes com os quais poderia iniciar essa rotina de escrever para um jornal, como os 30 anos do ECA ou a tal “ideologia de gênero”, que muitos mentem dizendo ser um projeto das LGBT ou das feministas.

            Mas, ontem, perdi para a covid-19 uma amiga e uma inspiração de luta. Ela, ainda que tivesse asma, não recebeu nenhum suporte do Estado para que não precisasse permanecer trabalhando. Ela era prostituta, como o são 90% de nós, travestis e mulheres trans brasileiras, que não veem alternativa para o próprio sustento.

Como nos mostra a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), essa parcela da população é expulsa de casa em média aos 13 anos de idade. Desde cedo nas ruas, o que ocorre é que 72% das nossas não conseguem completar o Ensino Médio e 56%, não tenham nem o Fundamental. E, mesmo para a minoria de nós que consegue se qualificar profissionalmente, o que encontramos é quase sempre a negativa dos empregadores.

            As populações vulnerabilizadas pela pobreza, pelo racismo, pela TRAfobia e demais expressões da desigualdade social são as mais afetadas por essa pandemia. Não têm condições de ficar sem trabalhar ou de trabalhar em casa. Cabe ao Estado, portanto, garantir-lhes o direito ao isolamento social. Mas o que se percebe com as atitudes até agora tomadas pelos governos distrital e federal, é que, para eles, as vidas negras, trans, indígenas e periféricas só têm valor quando é pra pagar a conta da crise que vivemos.