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11/07/2019, 11:27

Não existe amor em MG

por André Cunha

Divorciado, desempregado, desmonetizado, desabrigado, abandonado pela família, esquecido pelos amigos, Oséias, o narrador/protagonista de O Verão Tardio (Cia das Letras), escrito por Luiz Ruffato, carrega uma culpa pesada na alma e uma provável doença incurável no corpo. Flanando por Cataguases, cidade mineira onde nasceu e cresceu antes de mudar-se pra São Paulo, esse homem dilacerado tenta em vão reatar os fios do passado, mas tudo está desmoronando num país que “parece ir do projeto à ruína a todo momento e na velocidade da luz.”

Descrito como “uma trágica jornada em meio ao desencanto do Brasil contemporâneo”, O Verão Tardio lembra A Tirania do Amor (Todavia), de Cristovão Tezza, sobre um economista “em uma profunda crise de meia idade (…) imerso na vulgaridade de um país em ruína econômica, cultural e moral.” Mas se Tezza investiga os desafetos e desencantos da classe média do sul-maravilha, Ruffato escolhe um cenário bem mais melancólico pra fustigar seus personagens com generosas quantidades de sofrimento: o interior de Minas.

As cidades são sujas. A infraestrutura, precária. As oportunidades, escassas. Fracassar na vida é uma possibilidade real. Oséias sabe bem disso: “Fracassei como filho, fracassei como marido, fracassei como pai… Fracassei como irmão… como membro da família.”

Nesse vale de lágrimas irmãos não se falam e velhos amigos não se reconhecem. Funks pornográficos jorram em alto volume dos carros tunados. Há cada vez mais assaltos. O crack chegou com tudo. Um homossexual foi roubado e espancado. A descarga do banheiro não funciona. Novos-ricos viajam pros Estados Unidos e voltam com as malas cheias de tralhas. Rejeitos químicos poluem os rios. Extorsão, corrupção, suicídios, filhos bastardos, sequestros. Pessoas andando armadas. Alcoolismo. Desemprego. A julgar por certa produção literária contemporânea, o Brasil é um esgoto à céu aberto. E tá errado? Detalhe: como Oseias, Ruffato é de Cataguases. Da gema.

 

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