Menu

05/07/2023, 09:17

Não nos situamos no reino das nuvens

A distorção do pensamento a respeito do abrangente significado da Caridade tem produzido grande prejuízo à sociedade. É preciso, em definitivo, entendermos que, no mais amplo sentido, o Mandamento Sublime da sobrevivência pessoal e coletiva é a Caridade. Ela se expande por todos os estratos da atuação criativa espiritual-humana, nos quais aguarda o convite da Alma para nela manifestar-se.

Philipp Melanchthon (1497-1560), o respeitado teólogo e educador alemão, que liderou o luteranismo após a morte de Martinho Lutero (1483-1546), colocou-se do lado dos que preferem servir, ao citar o seguinte aforismo: “Nas coisas necessárias, unidade; nas coisas incertas, liberdade; em todas as coisas, a caridade”.

Ensinava o Apóstolo Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios, 13:13, que, das três virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade), a maior delas é a Caridade, que, como não nos cansamos de repetir, é sinônimo de Amor. Duvida?! Basta consultar um bom dicionário.

Há, igualmente, os que acreditam ser a Caridade a ação de fracos, fuga dos que não desejam a solução definitiva para os problemas sociais… Só que as propostas que, por tanto tempo, vêm apresentando não resolveram as aflições do mundo. É que tudo deve começar pelo ser humano com o seu Espírito Eterno, o alvo da Caridade, que não é o refúgio de sonhadores ou proposta escapista de gente acomodada. Pelo contrário. Tê-la como decisão de vida, de atividade promotora de transformações profundas na sociedade, a partir do sentimento de cada criatura, exige determinação, caráter e coragem, consoante demonstra o célebre orador da Antiguidade, Demóstenes (384-322 a.C.), ao afirmar: “Não podes ter um espírito generoso e valente se tua conduta é mesquinha e covarde; pois quaisquer que sejam as ações de um homem, tal será o seu espírito”.

Caridade — Plano Divino de preservação da vida

Não haverá Sociedade Solidária, e, possivelmente, com o tempo, o próprio planeta como o conhecemos, se não a compreendermos como um Plano Divino para que haja sobreviventes à avidez humana.

Por falar em Deus, bem apropriado para o texto esta máxima de Mary Alcott Brandon: “Existe uma força que dirige o Universo. O nome que dermos a ela é secundário”.

Pobre é quem ignora a perfeita Lei de Fraternidade e de Justiça, aquele que se esquece do Criador e de Suas criaturas. Palavras de Eliú, Livro de Jó, 34:11 e 12: “Deus retribui ao homem segundo as suas obras e faz que a cada um toque segundo o seu caminho. Na verdade, Deus não procede maliciosamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo”.

Por intermédio da psicografia de Chico Xavier(1910-2002), o famoso médium espírita de Uberaba/MG, Cornélio Pires (1884-1958), jornalista, poeta e um dos maiores divulgadores do folclore brasileiro, deixou registrado, no livro Conversa firme, esta sugestiva quadrinha:

“Sociedades e grupos

São destinados ao Bem,

Deus não cria mal nenhum

Nem cativeiro a ninguém”.

Fraternidade é a Lei. Ética, a sua disciplina. Justiça, a sua aplicação. Ninguém mais infeliz do que o indigente da Fé e da Caridade. Quem é verdadeiramente rico? Aquele que ama. Como sábio e afortunado é o que da mesma forma se comporta, promovendo o bem-estar da sociedade. É o caso do filósofo, médico e musicólogo, intérprete de Bach (1685-1750), Albert Schweitzer (1875-1965), que por mais de 50 anos cuidou dos doentes em Lambarene, antiga África Equatorial Francesa. Dizia ele: “Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única”.

O conhecido missionário, que também foi Prêmio Nobel da Paz de 1952, era tido por Albert Einstein(1879-1955) como “o maior homem vivo” de sua época. Gandhi(1869-1948) já havia sido assassinado.

Por termos confiança no ideal da Boa Vontade, persistiremos até alcançarmos a concretização da Economia da Solidariedade Espiritual e Humana, firmada no Novo Mandamento de Jesus (Evangelho, segundo João, 13:34; e 15:13) — “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. (…) Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos” —, parte integrante da Estratégia da Sobrevivência, conforme publiquei em 1986, na Folha de S.Paulo.

José de Paiva Netto — Jornalista, radialista e escritor. 

paivanetto@lbv.org.brwww.boavontade.com