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09/04/2020, 08:33

Nazistas Unidos da América

por André Cunha

“Há muito ódio lá fora e ele sabe como usá-lo” avalia Herman Levin, um judeu norte-americano dos anos 40 referindo-se a Charles Lindbergh, político xenófobo que flerta com o nazi-fascismo e forte candidato nas eleições presidenciais que se aproximam.  Estamos no universo alternativo criado pelo escritor Phillip Roth no romance Complô Contra a América (Cia das Letras), que acaba de ser adaptado em forma de minissérie pela HBO. O altamente premiado David Simon (The Wire, The Deuce e muitos outros) e Ed Burns assinam o roteiro.

A manipulação do ódio com objetivos políticos provoca medo, esse exasperante sentimento que perpassa o livro e dá o tom da minissérie. Medo, no caso, que assola uma parcela específica da população: os judeus. Tema abordado por Roth ao longo de praticamente toda a sua obra, muitas vezes com laivos de fina ironia, raiva deliberada e o mais escrachado sarcasmo, o antissemitismo era a última moda entre políticos populistas na véspera da Segunda Guerra.

O Estados Unidos optaram pela via democrática, mas o exercício de imaginação aqui consiste em conceber uma realidade alternativa na qual um personagem real (Lindbergh, aviador, entusiasta de Hitler, isolacionista em termos geopolíticos, de fato existiu) realiza uma guinada ideológica na maior potência econômica e militar do planeta. Resultado: os Estados Unidos se tornam um país nazista. É ou não é de dar medo?

Complô Contra a América voltou à lista dos mais vendidos na esteira da eleição de Donald Trump, que pode até não ser nazista, mas fala barbaridades contra imigrantes e minorias. Com a eclosão da atual crise sanitária, outro livro do autor virou figura fácil nos cadernos de resenhas e suplementos literários: Nêmesis, publicado no Brasil pela mesma editora, sobre um surto de poliomielite na pequena cidade de Newark na década de 50.

Ganha um ingresso pro trem fantasma quem acertar o sentimento explorado na obra.

 

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