12/11/2020, 08:21
O cérebro eletrônico faz tudo (quase tudo)
por André Cunha
Uma das melhores séries de 2020, Devs, produzida pelo canal FX e escrita e dirigida por Alex Garland, é uma ficção científica que desenvolve uma ideia pra lá de instigante: a criação de um supercomputador, a máquina das máquinas, capaz de processar um número virtualmente infinito de operações por milissegundo.
Esse formidável processador de dados fica dentro de uma espécie de bunker banhado em ouro e lacrado à vácuo, ao qual se chega através de um elevador flutuante eletromagnético. O tal bunker, por sua vez, encontra-se nas instalações da empresa Amaya, uma Big Tech (grande empresa de tecnologia) nos moldes da Apple ou do Google. No centro do campus, a estátua gigante de uma criança, a filha falecida de Foster (Nick Offerman, excelente como um guru meio maluco e visionário). Mas a medida que os episódios vão revelando o que é e o que faz a tal máquina, um novo mistério se instala: o que passa na cabeça de Foster?
Os caminhos que levam a subjetivismo do atormentado programador se bifurcam nos primeiros episódios, quando um funcionário é assassinado, fato que desperta a desconfiança da sua namorada, Lily (Sonoya Mizuno). Descobrir que o tal funcionário era na verdade um espião russo é apenas uma das muitas surpresas nesse enredo que mistura espionagem industrial, segurança cibernética e questões filosóficas como determinismo e livre arbítrio.
Considerado um dos mais inventivos realizadores na área da ficção científica – ele já foi chamado de “a voz da geração X” –, Garland entrega uma série densa, cabeçuda no melhor sentido da palavra, repleta de boas sacadas e ótimas referencias. Destaque pra declamação do poema Aubade, de PhiIip Larkin, no episódio 7, um petardo literário de arrepiar. Foster, que sabe de muita coisa mas não de tudo (ao contrário da máquina que criou), supõe tratar-se de uma obra de Shakespeare. Errou por pouco.