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30/10/2018, 15:45

O homem múltiplo

por André Cunha

Matthew Weinner é um homem de muitos talentos. A série Mad Men, criada por ele e produzida pelo canal AMC, exibida de 2007 a 2015, é repleta de diálogos bem escritos – ironias, subentendidos, duplos sentidos -, mulheres lindas e uma produção visual de primeira linha. Pra quem estava na expectativa pelo seu novo projeto, boa notícia: acabam de sair na Amazon os três primeiros episódio de Os Romanov (no original The Romanoffs), série antológica que aborda a história da família real russa fuzilada pelos bolcheviques após a revolução russa.

 

O talento de Weinner continua intacto. Aliás, ele se superou. Os Romanov consegue forjar um equilíbrio tão bem sucedido entre suspense e comédia, cinismo e delicadeza, grotesco e sublime, que assisti-la é uma experiência estética maravilhosa. The Violet Hour, sobre os descendentes da família real na França, é de uma vileza e uma doçura sem limites. The Royal We, que apresenta um Romanov em crise no casamento, investiga o vazio das nossas vidas e as formas ridiculamente ingênuas de preenchê-lo. House of Special Purpose, protagonizado pela voluptuosa Christina Hendrix, adota uma pegada Além da Imaginação ao conceber uma situação cada vez mais extravagante onde sonho e realidade, fato e ficção, se misturam. Com média de 80 a 90 minutos, são na verdade de longas-metragens independentes que dialogam entre si unicamente em função do gancho.

 

E que gancho! O tema é a família real russa, mas não se trata de uma série histórica sobre a ascensão e queda da dinastia, e sim o seu legado: roupas mofadas, patrimônios ameaçados, nostalgias aristocráticas, preconceitos inoculados, escombros de um passado traumático e grandioso. Weinner faz um comentário ácido e delicado sobre a natureza humana e o mundo contemporâneo ao pegar esse fiozinho da história e costurá-lo afim de produzir algo novo. Trata-se da própria definição de ironia: dizer uma coisa pra significar outra. Em suma, horroroso!

 

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