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29/07/2021, 09:18

O indizível

por André Cunha

“Tudo o que pode ser dito pode ser dito claramente” escreveu o filósofo da linguagem Ludvig Wittgeinstein, querendo com isso dizer que pensamentos, emoções e sensações passíveis de ser traduzidos em palavras podem assim ser feitos com as palavras certas, claras e precisas.

Há, no entanto, coisas tão intensas, profundas e viscerais que transcendem os limites da linguagem e adentram o domínio do indizível, aquele lugar onde palavras perdem o sentido. Por exemplo, o que uma pessoa sente ao esquartejar o corpo do cônjuge? Foi a pergunta feita por um representante da lei à Elize Matsunaga por ocasião do seu julgamento: “No momento em que você estava cortando o corpo do Marcos, você sentia ódio? Você sentia o que?” Ao que Elize apenas chora.

A cena faz parte da série documental Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime, dirigida por Eliza Capai, sobre o célebre homicídio ocorrido em 2012 e a subsequente e malfadada tentativa de ocultação do cadáver da vítima. Valendo-se do formato popular nos Estados Unidos de séries criminais que investigam as nuances de um caso e entrevistam várias testemunhas, conta ainda com um depoimento inédito da própria assassina, cuja biografia e personalidade complexas deixam a história ainda mais intrincada.

Por exemplo, pra quem só conhecia o caso de orelhada é no mínimo curioso ficar sabendo que a polícia chegou a considerar a participação de uma terceira pessoa na cena do crime, sem conseguir, no entanto, provar nada. Sobre os detalhes do esquartejamento, Elize tergiversa: “Não dá pra falar sobre tudo. Tem coisas aqui que eu não consegui expor. Eu não consegui ir a fundo, não consegui trazer em palavras. E há segredos na vida que a gente leva pro túmulo.” Será?

 

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