Menu

14/08/2020, 20:47

O que são o gênero e a identidade de gênero?

Para entendermos o que é a identidades de gênero, precisamos, antes, entender o que é o gênero, em si. Basicamente, gênero é o resultado de um conjunto de normas, valores e “(des)valores”, chamado patriarcado. Gênero se expressa em arquétipos, tipos ideias, um padrão de referência o qual todos nós deveríamos seguir. Esse padrão é o binarismo, marcado pelas ideias de “homem” e “mulher”, como se fossem as únicas possibilidades.

            “Ué, Lucci, mas homem e mulher são determinações biológicas, não?”. Não. Homem e mulher são invenções sociais. O que a natureza determinou são as diferenças entre os corpos: uns têm vagina, útero, seios maiores; outros têm pênis, testículos, seios menores; e outros, os corpos intersexuais, possuem, por condições biológicas (hormonais, genéticas etc.), características que a sociedade designa como masculinas e femininas. Vejam, portanto, que nem mesmo o “sexo” corresponde a um padrão binário, existindo muito mais possibilidades corporais e genéticas do que o patriarcado tenta nos fazer crer.

Um exemplo que eu gosto muito de usar para explicitar que a biologia define corpo, não gênero, é que não falamos que animais não humanos sejam “homens” ou “mulheres”, mas sim que sejam fêmeas, machos, ou hermafroditas, porque, fora da sociedade humana, só existem as diferenças corporais, não a significação social que se dá para elas.

            Compreendido isto, vamos à transgeneridade: é a qualidade de ser transgênero, é uma categoria referente a uma forma específica de se vivenciar o gênero. Vivenciam a transgeneridade todas as pessoas que se desenvolvem, individual e socialmente, de forma diversa ao que foram definidas, por conta de seu corpo, pela sociedade. As que não possuem essa vivência, são as que vivenciam a cisgeneridade, pois se desenvolvem, individual e socialmente, da mesma forma com que foram designadas pela sociedade, a partir de seus corpos. Toda pessoa que não é trans, portanto, é cisgênero (e não “normal”, “de verdade”, “biológica” ou “heterossexual” – afinal, isso nós também podemos ser).

            A partir da vivência da transgeneridade, podem-se viver identidades distintas. Se a pessoa foi designada como homem, mas se desenvolve como mulher, é uma mulher trans, independente de ter feito cirurgia. Se é o contrário, foi designada como mulher, mas se desenvolve como homem, é um homem trans, também independente de cirurgias. Se foi designada como homem, mas se reconhece como uma pessoa de identidade feminina, mesmo que por fora do binarismo homem X mulher, é uma travesti. Há ainda, várias outras possibilidade não-binárias. O importante é que o que define são as relações do sujeito com aqueles arquétipos definidos pelo patriarcado, não o corpo, não a genitália, não a direcionamento do desejo sexual e muito menos, a sociedade patriarcal.

 

Tags: