Menu

03/09/2020, 08:45

O velho normal

por André Cunha

Na escola, Connell (Paul Mescal) é um atleta popular e Marianne (Daisy Edgar-Jones) uma garota uma garota tímida, o que não impede que tenham um caso às escondidas -ele tem vergonha de ser visto em público com ela. Na faculdade, Connell não passa de um cara qualquer e Marianne desabrochou: ela agora tem amigos descolados e namora um cara bacana, no entanto ainda gosta de Connell. Entre idas e vindas, ambos vão se reencontrar, se separar, lidar com ciúmes, rejeição, problemas familiares, impulsos juvenis e ruídos comunicacionais. Marianne vai morar em outro país e se envolve com um sujeito sadomasoquista. Ao saber que um amigo de juventude se matara, Connell se entrega à depressão e sofre ataques de pânico. De forma intermitente, eles continuam se vendo e, acima de qualquer dúvida razoável, apesar de todos os pesares, se amando. Eis aí a descrição de um casal deveras disfuncional, certo? Errado. Trata-se de pessoas completamente normais.

Baseada no romance homônimo da irlandesa Sally Rooney, produzida pela BBC e pela plataforma Hulu, a série Normal People, ou Pessoas Normais tem muitas qualidades, a começar pelo título. Numa época de bom mocismo emocional, quando espera-se que as pessoas se locomovam com absoluta lisura de caráter no pantanoso circuito dos afetos, assistir uma série protagonizada por personagens imperfeitos e imaturos configura uma experiência libertadora.

A certa altura, Connell se desculpa por ter agido como um verdadeiro babaca na adolescência. Marianne, que também não é nenhuma santa, diz simplesmente: “eu te perdoo.” É uma cena de rara beleza e que resume bem o espírito da série.

Quase não há menções às chatíssimas políticas identitárias, a clivagem de classes é tratada apenas tangencialmente (Connell é pobre; Marianne, rica) e as cenas de sexo, que são muitas, fluem com naturalidade. Resta, no fim das contas, duas pessoas tendo de lidar com o amadurecimento da vida adulta e com as expectativas e inseguranças uma da outra. Mais normal, impossível.

 

Tags: ,